Da UFF para o mundo: Gilliard Lopes, o niteroiense designer sênior do jogo FIFA

Em entrevista exclusiva ao blog "Alô, Gragoatá!", Gilliard conta de sua trajetória, da faculdade, da carreira e sobre o vínculo com a Universidade Federal Fluminense, além da cidade natal Niterói

Por João Pedro Sabadini

Foto: Reprodução Twitter Gilliard Lopes


Futebol e videogame: possivelmente duas das atividades mais desejadas por crianças para seguir carreira em todo o país. Gilliard Lopes, um niteroiense apaixonado pelas duas áreas, conseguiu fazer a junção perfeita para sua vida profissional. Hoje trabalhando como designer sênior na empresa Electronic Arts (EA), mais especificamente nos jogos da série FIFA há 13 anos, é responsável, junto de sua equipe, por todas as funcionalidades audiovisuais do game.

E como toda realização de sonho, o caminho até chegar ao ápice é longo e começa devagar. Gilliard contou ao "Alô, Gragoatá!" um pouco de sua trajetória pessoal e profissional e afirma que as paixões vêm desde novo: "Meu gosto pelos games vem da infância e é muito eclético [...] e sempre fui um apaixonado e estudioso assíduo do futebol. Na roda de amigos, eu sempre sou aquele que conhece os times e jogadores mais obscuros. Assisto horas incontáveis de futebol toda semana, de todas as maiores ligas do mundo, além de acompanhar também o meu Fluzão no Brasil, claro."


"O curso de Ciência da Computação na UFF foi absolutamente fundamental para a minha vida e carreira na área de games". 

Foto: Reprodução Twitter Gilliard Lopes


Mas a palavra "Fluminense" não o faz ter sentimentos positivos somente por conta do clube: nascido em Niterói, iniciou sua vida acadêmica na Universidade Federal Fluminense e diz que o período foi um divisor de águas: "O curso de Ciência da Computação na UFF foi absolutamente fundamental para a minha vida e carreira na área de games. Foi durante a graduação que comecei a exercitar o desenvolvimento dos games, utilizando todo trabalho prático como uma desculpa para fazer um pequeno jogo. Foi na UFF também que construí amizades para a vida toda e onde conheci o meu sócio no nosso primeiro estúdio de games, a Paralelo Computação, em Icaraí, no qual desenvolvemos juntos muitos games e engines para jogos por 7 anos."

Após alguns anos de experiências universitárias e profissionais, o designer se mudou para Vancouver (Canadá), a fim de evoluir na carreira. Foi quando ele entrou para o time da EA: "Para mim, assim como muitos colegas da minha época, sair do Brasil se tornou a única forma de continuar crescendo dentro dos games, pois rapidamente atingimos um teto de crescimento na indústria nacional."

Essa mudança e o novo emprego, ele conta, foram desafios muito grandes. Ainda assim, confirma que os resultados valeram a pena: "Desenvolver um game gigantesco jogado por dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo é o maior desafio que eu poderia desejar, e hoje eu sinto que estaria pronto para trabalhar em qualquer outro projeto de games do mundo depois dessa experiência muito intensa no FIFA."

"Desenvolver um game gigantesco jogado por dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo é o maior desafio que eu poderia desejar".

Foto: Reprodução Exame


Contudo, mesmo com sua mudança e apesar de todas as dificuldades, Gilliard vê com bons olhos o futuro dos games no Brasil: "Precisamos fortalecer a indústria de games nacional e facilitar o acesso ao capital semente que possibilite o surgimento de novos estúdios sustentáveis. Com isso, estaremos criando mais oportunidades para que nossos desenvolvedores possam manter uma carreira longa no Brasil. Eu vejo o Brasil crescendo e aparecendo nos games com vários títulos fantásticos nos últimos anos, o que é um bom sinal para um dia podermos considerar a indústria nacional como um destino viável para os melhores talentos em games do país."

Quando perguntado sobre planos futuros e se não pensa em retornar para o Brasil e, especificamente, para Niterói, o ex-uffiano deixa em aberto: "Por enquanto, meu plano é continuar crescendo na carreira e ampliando minha esfera de influência na equipe que desenvolve o FIFA, mas confesso que o espírito empreendedor que desenvolvi no início da carreira em Niterói não deixa de me tentar de vez em quando. Então, quem sabe?"


"Negar a legitimidade dos eSports significa desrespeitar esses atletas e suas trajetórias". Foto: Reprodução Twitter Gilliard Lopes


Com todos esses anos dentro da indústria, Gilliard acompanhou inúmeras transformações no mundo dos jogos, tanto tecnológicas quanto ideológicas. Um debate muito realizado - principalmente na última década com a enorme profissionalização vista nos setores ligados aos games - é o dos eSports, questionando a validade e relevância deles. De acordo com a Confederação Brasileira de eSports (CBeS), os eSports são competições de esportes disputadas por atletas profissionais em games eletrônicos.

Quanto a isso, o niteroiense tem um lado bem definido e se mostra fã dessas modalidades: "Sou um defensor e admirador dos atletas de eSports. Tive a oportunidade de conhecer alguns deles de perto, e até mesmo jogar FIFA contra eles em eventos, e é muito evidente o grande talento, a dedicação e a perseverança que esses atletas precisam ter para competir por um longo tempo no topo das suas categorias".

"Negar a legitimidade dos eSports significa desrespeitar esses atletas e suas trajetórias, então eu sou um aliado e procuro sempre advogar pelo reconhecimento dos eSports em todos os eventos e entrevistas em que participo", diz Gilliard

No entanto, mesmo sem o reconhecimento unânime, o fenômeno e a consolidação dos videogames no mercado é inegável. Como exemplo, apenas a última edição do FIFA - o FIFA 21 - contava com mais de 25 milhões de jogadores já em maio de 2021, um número impressionante do game que tem uma nova edição lançada anualmente e é a franquia de jogos de esporte mais popular e vendida no mundo, batendo recorde de faturamento na EA ano passado.

O impacto dos videogames já é percebido em diversas esferas da sociedade e continuarão transformando vidas - não só para quem joga, mas também para aqueles que, como Gilliard, proporcionam que todas as ideias no papel ganhem vida e cheguem aos consoles mundo afora.

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