Criado no Rio de Janeiro, o esporte, cujo é um dos mais queridos pelos boleiros, tem superado preconceitos e atraído mais atenção do público nacional e internacional
Por Paulo Queiroz
Patrimônio cultural da cidade do Rio, o futevôlei faz estrondoso sucesso nas praias do Brasil e tornou-se um esporte rentável com atletas vivendo, exclusivamente, com a renda proporcionada pelo esporte.
Criado em 1965, na praia de Copacabana pelo ex-jogador do Botafogo, Tatá e seus companheiros, o futevôlei surgiu nas quadras de vôlei de areia como uma alternativa à linha de passe, que era popular nas praias do Rio na década de 60, quando durante a Ditadura Militar, a polícia impôs restrições sobre a prática de alguns esportes na praia.
O antigo "pé vôlei", como era chamado na época, usava de muitas regras do vôlei, por exemplo: o saque era feito com as mãos, os times eram compostos por seis jogadores e utilizava-se a mesma altura da rede. Posteriormente, o saque passou a ser feito com a bola no chão, permitindo apoiá-la sobre um monte de areia. Entretanto, as partidas estavam distantes do ideal, relata Tananã, um dos pioneiros na modalidade, em entrevista para o documentário “Futevôlei: A História”.
- Vimos que seis pessoas era muita gente dentro da quadra. Era muito difícil derrubar no outro lado uma bola com o ataque tradicional.
Em 1968, o futevôlei foi levado para outro ponto da orla de Copacabana, mais especificamente na Constante Ramos. Assim, o esporte ganhou mudanças e surgiram os trios e as duplas.
As mudanças atraíram as estrelas do futebol de campo e tornou-se comum jogadores serem flagrados praticando futevôlei nas praias. Para o ex-jogador do Vasco e do Flamengo, Romário, é uma forma de relembrar o seu passado.
- É claro que o contato com a bola sempre faz relembrar um pouco, o que a gente foi. No meu caso em específico, ex-jogador de futebol. O futevôlei, em geral, é um esporte muito prazeroso e, principalmente, saudável. Sem dúvidas, é meu segundo esporte.
Com o passar dos anos, mais redes de futevôlei foram implementadas, em praias como Leme, Ipanema e Icaraí, em Niterói. Assim,as primeiras competições foram surgindo. Com grande investimento de empresas privadas, que patrocinam os campeonatos, surgiram as premiações.
Nos anos 90, o futevôlei teve sua primeira competição televisionada, contando com atletas de futevôlei e jogadores de futebol. Desse modo, o futevôlei tomou novas proporções por todo Brasil e fora do país.
Em 2017, o futevôlei de praia se tornou Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial da Cidade do Rio de Janeiro, promulgada pela Lei nº 6196.
Apesar do crescimento em popularidade, o esporte começou a ser veiculado como passatempo e lazer, justamente por causa dessa estreita relação com as estrelas do futebol, algo que perdura até os dias atuais.
Mesmo com essa visão estereotipada, Romário conclui que a atenção levada a modalidade, através dos boleiros, é positiva e foi muito importante para promover o esporte.
- Ex-jogadores, assim como eu, conseguimos trazer uma visibilidade para o esporte. Quando o futevôlei começou, se jogava nas praias. Hoje, você joga em todo lugar do Brasil; em praça, em quadra, em campo de futebol.
Para Bello Soares, considerado o melhor jogador de futevôlei do mundo, essa visibilidade trazida foi importante, mas hoje não é vista como essencial.
- No início do futevôlei essa presença e apoio dos ex-jogadores de futebol ajudaram muito a modalidade ter uma maior visibilidade. Foi muito positivo. Porém, hoje o esporte evolui muito e temos muitos talentos e a rede social para disseminar a informação. Então, claro, todos os jogadores são muito bem vindos em qualquer rede/jogo, mas não dependemos mais deles para o esporte crescer.
De origem humilde, Bello nasceu no interior de Alagoas, na cidade de União dos Palmares. Apesar das dificuldades, conta que sempre teve apoio da família para virar um atleta profissional, mesmo havendo descrença no início da sua trajetória.
-Naquela região, virar um atleta profissional é mais vislumbrado do que criar uma carreira sólida. Então quanto ao apoio da família, tive de certa forma, mas para assumir a decisão de viver do futevôlei, tive que sair da minha cidade e ir pro Rio de Janeiro. No início, é natural que o reconhecimento não fosse algo muito esperançoso, porque o esporte era quase que embrionário, visto que hoje ainda não é tão estruturado assim, ainda nem somos um esporte olímpico, por exemplo, mas o esporte está em ascensão e hoje a percepção sobre sucesso dentro do futevôlei é muito nítida.
Embora seja um fenômeno, tendo um currículo invejável de 29 títulos brasileiros, nove títulos mundiais, seis títulos da LNF e o bicampeonato da Copa do Brasil, a independência financeira não veio rapidamente e o jogador teve que trabalhar em outros ramos durante a juventude, antes de viver somente com a renda do esporte.
- As premiações serviam para cobrir alguns gastos meus e do meu parceiro, mas fazíamos vários bicos (pintor, pedreiro, e vários outros trabalhos pra complementar renda). Não tínhamos o suporte de lei de incentivo, morávamos na Rocinha e por um período tivemos o apoio de um patrocinador lá no morro que bancava nossa estrutura e nossas viagens pra torneios - conta o atleta.
Com a pandemia do coronavírus, as competições de futevôlei, assim como na maior parte dos esportes, chegaram a ser paralisadas. Além de atleta, Bello é dono de 4 centros de treinamento, além de dar aulas e ministrar clínicas. Com isso, foi diretamente afetado pelas medidas preventivas adotadas pelos governos.
- Por conta da pandemia, naturalmente, as coisas foram pausadas. A maior dificuldade acredito que foi a incerteza de como e quando seria a retomada das coisas, além do lado psicológico que afetou a todos, por não sabermos muito ainda com o que estamos lidando.
Ainda que tenha obtido muitas conquistas através do futevôlei, Bello diz que o esporte tem ainda que evoluir e ter mais seriedade com os atletas.
- Quanto mais profissionalismo tivermos no futevôlei, mais estrutura e olhares teremos (das marcas, das mídias, dos atletas, dos telespectadores, etc), a ponto de se tornar cada vez mais um esporte que seja realmente uma opção de alguém viver dele. Essa realidade mudaria a vida de muitas pessoas, mas isso só será possível quando o esporte tiver um olhar mais profissional dessas pessoas envolvidas, e não ser lidado pela maioria como apenas ‘resenha’. Olhar para o esporte com esse cuidado fará as condições de vida e de jogo naturalmente subirem – conclui o multicampeão.
Futevôlei em Niterói
Sendo um dos lares do futevôlei, Niterói tem grande tradição no esporte. Além de ser dona de diversas escolas para ensino e prática da modalidade, como a MF Futevôlei, contém associação própria, em parceria com a Prefeitura, para regulamentar e incentivar a prática esportiva na região, a Associação Niteroiense de Futevôlei.
Em 2019, a praia de Icaraí foi sede do campeonato mundial da categoria, vencido pelos brasileiros Vinicius e Paraná contra os israelenses Ron e Maor, por 2 sets a 1.
Neste mês de setembro, Niterói irá realizar a primeira etapa (de um total de quatro) do seu Circuito próprio, que se encerrará em dezembro deste ano. As categorias serão divididas em: Base, Amador (masculino e feminino), Profissional e Master. As inscrições estarão abertas, em breve.
Para mais informações sobre o Circuito, acesse: https://bit.ly/3A1ukA3
Para mais informações sobre a Escola MF Futevôlei, acesse: https://bit.ly/3hj6qc8
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