O Retorno do Vampiro de Niterói

Depois de cumprir pena máxima de 30 anos, o assassino poderá voltar às ruas

Por Victor Hugo


 

Foto: Carlos Magno / arquivo


Em 2 de janeiro de 1967 nascia Marcelo Costa de Andrade, o assassino em série conhecido como o Vampiro de Niterói. Depois de ter confessado ter assassinado de forma brutal 14 crianças no período de 8 meses, o criminoso poderá ser solto no dia 17 de dezembro de 2021, após cumprir a pena máxima brasileira de 30 anos, segundo a justiça do Supremo Tribunal Federal (STF). 


Marcelo cumpre pena desde 1993, apontado como autor dos crimes de assassinato. A justiça o julgou como incapaz por avaliação psiquiátrica, após o réu confessar 13 dos 14 assassinatos que foi indiciado, que ocorreram no município de Itaboraí, nas proximidades de Niterói.


Marcelo teve uma infância difícil e de constantes mudanças em sua vida, cresceu em um lar desestruturado, sua mãe era desempregada e agredida regularmente por seu marido. Aos 10 anos, Marcelo foi mandado para viver com seus avós, o criminoso relatou que era constantemente agredido em seu novo lar.


A vida com seus novos responsáveisnão durou muito, depois de um tempo, Marcelo fugiu de casa e passou a morar na rua, sobrevivendo através da prostituição. Ficou nas ruas até ser acolhido pela Casa dos Meninos, uma instituição que abrigava jovens de 6 aos 13 anos. Um lar provisório que agravou ainda mais os problemas que ele já tinha. 


O réu foi hostilizado e ofendido pelos colegas durante os 2 anos em que conviveu com eles. Ao completar 14 anos, já não podendo mais morar no abrigo, voltou para ruas e para a prostituição, da qual ele não gostava, mas que era a única forma que havia encontrado para sobreviver.


Nesse período de prostituição, conheceu o porteiro Antônio Batista Freire, e os dois logo engataram um relacionamento. O homem o apresentou à Igreja Universal do Reino de Deus e Marcelo começou a ir  frequentemente aos cultos, voltou a morar com sua mãe, largou a prostituição e começou a trabalhar formalmente, ajudando financeiramente sua família.

 

Marcelo trabalhava como vendedor de bolsas e posteriormente como distribuidor de panfletos, sua vida parecia estar menos conturbada, mas foi nessa época que seu lado sádico e horrendo se manifestou.

 

Vampiro de Niterói está internado em manicômio há 28 anos - 

Foto: Reprodução 


O primeiro crime ocorreu em abril de 1991, quando voltava do trabalho. Ao encontrar com um garoto vendendo doces na avenida, Marcelo abordou a criança oferecendo dinheiro em troca de ajuda em um ritual religioso que nunca aconteceria. Ao levar o menino para um matagal, o assassino tentou abusar da criança que resistiu, o que fez Marcelo o agredir com uma pedra, o asfixiar e violar sexualmente.

Foi sua segunda vítima que imortalizou o nome pelo qual seria conhecido. Ao abordar da mesma maneira o garoto Anderson Gomes Goulart, de 11 anos, o Vampiro de Niterói assassinou o menino e bebeu o seu sangue. 

Em 16 de dezembro de 1991, os irmãos Altair Medeiros de Abreu, de 10 anos, e Ivan Medeiros de Abreu, de 6 anos, foram abordados por Marcelo, que prometeu 4.000 cruzeiros, caso eles o ajudassem em um ritual para São Jorge. 

Os três foram para uma praia deserta e foi nesse momento que Marcelo tentou beijar Ivan. O garoto, assustado, tentou fugir, mas logo foi capturado pelo agressor. Altair paralisado pelo medo observou seu irmão ser abusado sexualmente por Marcelo, que após o ato, enforcou a vítima e comunicou que o mesmo estava apenas dormindo. 

Atordoado pelos acontecimentos, Altair passou a cumprir tudo que Marcelo  pedia. Os dois dormiram em um matagal e pela manhã partiram para o Rio de Janeiro. Nos depoimentos oficiais consta que durante o trajeto, Altair aproveitou um momento de distração de Marcelo para fugir do assassino.

Ao chegar em casa, Altair não contou que seu irmão havia sido morto. Dias depois, ele confessou para uma de suas irmãs mais velhas o verdadeiro paradeiro de seu irmão. Quando o corpo de Ivan foi identificado por sua mãe, Altair fez uma retratação do assassino, o que levou à captura de Marcelo, que confessou os crimes imediatamente sem demonstrar surpresa em ter sido pego. 


Na delegacia, ele confessou outros crimes, descrevendo com frieza e clareza todas as ações horríveis cometidas contra 14 crianças que tinham de 6 a 13 anos. 



Marcelo Costa de Andrade foi preso pelo assassinato de 14 meninos

Foto: Dadá Cardoso / Folhapress.


Marcelo não foi julgado por nenhum dos crimes. Isso porque a justiça considerou que o criminoso possuía retardo mental, sendo assim, não responsabilizado pelos seus delitos. Deste modo, o assassino foi encaminhado para hospitais psiquiátricos que, de 3 em 3 anos, realizavam exames psicológicos para saber se ele estaria livre de sua condição ou não.


Esse caso gerou uma grande comoção na época e recentemente foi noticiado que o assassino seria libertado no final deste ano, após cumprir  pena total de 30 anos. Hoje, com 54 anos, ele continua internado no Hospital Psiquiátrico e os médicos responsáveis pelo seu caso afirmam que ele tem a mesma mente infantil e ainda fala com orgulho dos crimes que cometeu.


Após a divulgação da notícia sobre sua soltura, houve represálias por parte do público mais antigo nas redes sociais que acompanhou o caso na época, como conta o morador de São Gonçalo, Edvaldo Souza, 39 anos. “Eu tenho um sobrinho de 5 anos, fico pensando nele, o cara não pode sair, espero que a justiça repense melhor essa decisão de libertar ele. Imagina se ele volta a matar como antes?”, comentou sobre o caso.


O público que nasceu após os acontecimentos de 1993 têm opiniões divergentes ao serem perguntados sobre o caso, os estudantes Caio Uriel e Isaac Antunes, 22 e 24 anos respectivamente, contam suas visões sobre o caso. Uriel cita: “Cheguei a ler sobre o caso. O que ele fez foi imperdoável, ainda mais com as criancinhas, mas hoje ele já está velho, acho que não faria nada caso fosse liberto. Moro na cidade do Rio de Janeiro e aqui poucas pessoas sabem quem ele é.” 


Antunes, que mora em Itaboraí, afirma estar bastante preocupado com a gravidade da situação. “Cara, aqui que ele começou a matar e estuprar os meninos, não é por ele estar tão velho que isso muda alguma coisa. Quantos casos como esse já vimos passar na TV?”, conta Antunes.


Apesar das diversas interpretações a respeito de sua soltura, o Vampiro de Niterói poderá voltar às ruas em 17 de dezembro deste ano, como afirma a decisão do Supremo Tribunal Federal.

 


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