A ascensão da cultura coreana em Niterói

Por Ana Beatriz Caparroz 

Foto 1: Montagem feita por Ana Beatriz Caparroz.

Reprodução: Arquivos da internet.

Durante a pandemia, a cultura coreana conquistou milhares de adoradores ao redor do  mundo e especialmente no Brasil. Não é de hoje que a Coreia do Sul tem ganhado espaço no cenário internacional por sua  cultura única e expressiva. O kpop, os dramas (séries de origem coreana ou chinesa), role  models (em tradução livre significa alguém que inspire pessoas na forma de agir ou se  comportar) e até jogos são uma influência bem forte no Brasil. 

O kpop, braço mais forte da cultura coreana, vem conseguindo sucesso a anos com suas  batidas envolventes e danças elaboradas. Dele saiu o grupo mais famoso da atualidade, com  mais de 20 bilhões de streams no Spotify, o BTS, que hoje inspira milhões de fãs com o lema  “Love Yourself” (Ame você mesmo). Em vários cantos do mundo, devido ao crescimento do  gênero musical, dançarinos, ou não, se unem em grupos para recriar alguma coreografia  marcante dos k-idols, são os chamados kcovers. Em Niterói não é diferente. Letícia Garcia e  Victória Petrucio são estudantes de Niterói e participam de eventos de cultura coreana há  anos, performando coreografias dos seus artistas favoritos. 

Victória é aluna da Companhia De Dança de Niterói (CDN), e conta que as aulas eram  bastantes procuradas antes do período pandêmico. Apesar da grande procura por aulas da  modalidade, não são muitos os eventos que ocorrem na cidade. Letícia relembrou o Anime  Nikity, “O único evento que fiquei sabendo era esse Anime Nikity, mas era até mais voltado  pro anime do que pro kcover em si” de 2016. Embora não tenha tido edições nos últimos  anos, o evento tem previsão de retorno para meados de janeiro de 2022. Victória e Letícia  concordam que a Prefeitura de Niterói poderia “fazer eventos, não de anime ou dança em si,  mas eventos de cultura asiática mesmo, acho que não só o pessoal que se interessa por  cultura asiática vá, mas estudantes de várias áreas”.

As estudantes falaram um pouco sobre o preconceito sofrido pelos fãs, que, por ainda ser  uma cultura não tão divulgada, atrai muitos comentários negativos. Victória pontuou que “os  comentários vem de pessoas que nunca sequer ouviram o gênero, ou sabem como  funcionam, então muitas vezes tem muito mais a ver com a xenofobia do que com o gênero  em si”, e Letícia completou que “é um grupo de dança como qualquer outro e merece ter uma  posição de destaque”. 

Foto 2: Elementos da cultura Coreana.

Reprodução: https://www.123rf.com/photo_93627488_lovely-korea-travel-concept-set-korean-traditional-culture-symbol collection-korea-country-name-in-k.html


Além da música, a cultura ganhou o coração de muitos brasileiros que começaram a correr  atrás de aprender a língua. A estudante de Letras da UFF, Milena Abreu, foi uma das pessoas  que ingressou por causa do kpop e hoje ela dá aulas de coreano de nível básico e  intermediário. A uffiana contou que no começo da expansão da cultura coreana, em 2018, ela  organizou, com membros do clube de estudos asiáticos um aulão para ensinar o alfabeto  coreano para outros alunos da Universidade, tivemos muitas inscrições e a presença de 40  pessoas no bloco B da UFF do Gragoatá, foi muito interessante”. 

Hoje, Milena faz parte de um projeto da Embaixada, o “Amigos da Embaixada”, que tem como  objetivo disseminar a cultura coreana por meio das redes sociais, algo que pode ajudar a  trazer mais eventos para cidade, e a niteroiense destaca que por eu fazer parte da  Embaixada, claro que a coisa fica mais fácil pra eu trazer, pra minha cidade, os eventos”. A  estudante da UFF ainda falou sobre a cultura sul-coreana estar “numa crescente, que muitas  outras coisas vão acontecer, que vão deixar a Coreia no holofote”, o que pode abrir muitas  portas para sua divulgação no Brasil. 

Nos últimos meses, foram divulgadas pesquisas que diziam que a procura pelos kdramas  aumentou significativamente durante a pandemia. Não é à toa que a Netflix apostou no  gênero e lançou recentemente várias produções, como Navillera e Vincenzo, queridinhos do  público. Mas o que realmente alavancou as buscas e rendeu muito destaque à plataforma,  foi Round 6. “A cultura coreana é muito rica e tem muito a oferecer, você vê, que a série  [Round 6] bombou e aquilo tudo é cultura coreana”, reforçou Milena. O drama ganhou  popularidade muito rápido, obtendo mais de 110 milhões de visualizações e ficando no top  10 por várias semanas consecutivas. O aspecto que mais cativou os fãs foi a gamificação do 

programa e a combinação de elementos clássicos, como as brincadeiras infantis, e tecnologia  e dramaticidade.  

Os jogos são extremamente famosos entre os jovens, que a cada dia descobrem algo  diferente, como League of Legends, que foi lançado em 2009 mas ainda é o queridinho dos  brasileiros. A Riot, empresa criadora, construiu um império ao longo dos anos, produzindo  inclusive uma série da franquia, Arcane, que também foi um sucesso da Netflix. O jogo conta  com várias competições de nível nacional (CBLoL) e internacional (Mundial), e muitos  adolescentes sonham em se profissionalizar e serem tão bons quanto o sul-coreano Faker.  O pro player (jogador profissional), aos 25 anos se tornou uma grande referência na história  de LoL, sendo considerado um dos “Big Four” da Coreia do Sul, devido a visibilidade que  trouxe para o país. 

Na UFF, a Atlética de Artes e Comunicação Social (AACS) fundou a divisão de E-Sports em  2020, para participar de competições de Valorant, Counter Strike e, lógico, League of  Legends. A Atlética por enquanto treina em formato on-line. Em outubro, a Prefeitura de  Niterói sediou o Niterói Game Conf, um evento com foco na comunidade gamer e discussões  sobre geração de empregos e o desenvolvimento dos jogos no Brasil. 

O avanço das tecnologias e da globalização possibilitaram que as mais variadas culturas  fossem apresentadas ao mundo. Hoje, diversos elementos que fazem parte do cotidiano de  milhares de brasileiros foram absorvidos da cultura coreana, como os videogames, os ídolos,  as séries assistidas, as músicas que se ouvem na academia ou no trânsito. O fato é que a  Coreia do Sul se tornou uma referência muito próxima e forte nos hábitos brasileiros e com potencial de  se expandir cada vez mais na cidade de Niterói e no restante do país.


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