Por João Pedro Pereira
Reprodução: Arquivo pessoal.
Após um período de isolamento mais rígido, o Parque Palmir Silva, popularmente conhecido como Horto do Barreto, retorna com seus projetos gratuitos visando disponibilizar lazer através de atividades físicas para a população do bairro.
Os moradores do bairro do Barreto, em Niterói, já podem voltar a praticar aulas gratuitas de diversas modalidades de danças e lutas no espaço do Horto. Com as medidas de flexibilização, o projeto Arte de Dançar voltou ao funcionamento trazendo alegria para os moradores, que ficaram impossibilitados de se exercitar e socializar plenamente durante o período de maior rigor da pandemia. Paulo Roberto Conceição, secretário da Administração regional do bairro, conta um pouco sobre esse processo gradual de volta das aulas.
- Com a pandemia, ficou muito reduzida, agora que nós estamos voltando, vamos dizer que a uma certa normalidade. A gente tinha aula aqui dentro também de taekwondo, mas tivemos que parar por causa da pandemia. Tínhamos aula de capoeira, também tivemos que dar uma parada porque todos esses eventos, tirando a parte do projeto Arte de Dançar, são eventos de muito contato, o jiu jitsu, o taekwondo, o muay thai, então com a pandemia a gente teve que dar uma parada e agora aos pouquinhos nós estamos voltando com essas atividades.
Paulo Roberto também destaca as aulas de dança, as quais atendem um público bastante plural. A inclusão se apresenta como uma das características mais bonitas deste projeto.
- Nós temos ali todos os dias a parte de dança. Não é propriamente só a dança, é o exercício com a música, que fica melhor, feita pelo Luciano Motta, que é o responsável pelo projeto Arte de Dançar. Faz com os idosos, com os adolescentes, com as crianças, com pessoas portadoras de necessidades especiais. Então é feito todos os dias ali de 9h30 à 10h30.
Foto 2: Lona Cultural Arthur Maia, espaço onde são realizadas diversas aulas do projeto.
Reprodução: Arquivo pessoal.
O projeto faz parte do cotidiano do parque há mais de 20 anos, e vale ressaltar que todos os professores são voluntários, disponibilizando-se a contribuir com essa iniciativa que mescla a atividade física com a constante construção individual pela qual passam todos os cidadãos ao longo da vida como parte de um coletivo. Luciano Motta, professor e fundador do projeto, fala sobre o início de suas aulas nesse espaço e a consequente formação do Arte de Dançar.
- Eu dou aula aqui há 26 anos, eu comecei com crianças e adolescentes, formei um grupo chamado Nova Era Dance, na época, ganhamos muitos campeonatos de dança, levava eles pra tudo que é campeonato de dança aí, concursos, apresentações de festa de rua. Depois eu peguei a terceira idade para dar aula. Eu senti a necessidade de formar uma equipe de professores, cada um na sua modalidade. Eu fui buscando os profissionais, eles foram aceitando e abraçaram essa causa nobre.
Atendendo desde crianças até os idosos, este projeto gratuito consegue realizar mais do que somente propagar hábitos de saúde física, cumpre um papel primordial de socialização para diversos membros da comunidade. Luciano considera uma terapia, para ele e para os alunos.
- Não é só chegar e dar aula, um olha pro outro, pega na mão de uma pessoa que não conhece, conversa um pouco com ela. Isso é legal porque vai criando um vínculo, porque só dançar é fácil. É uma terapia e convívio. [...] Muitas pessoas que chegam aqui, chegam quebradas, até eu mesmo às vezes tô triste e quando chego aqui acaba a tristeza. A dança dá essa liberdade da gente se resgatar automaticamente, através de uma boa música, uma boa aula e um bom convívio. Tem gente que chegou aqui e não falava com ninguém, começaram a interagir com outras pessoas, aí viram amigas, começam a frequentar a casa da outra.
Além de todas as iniciativas, outra coisa que chama atenção é a localização do parque, situado próximo à diversas escolas do bairro. Paulo Roberto comenta como essa proximidade afeta na dinâmica do espaço com os jovens representando uma grande parcela dos frequentadores.
- Nós temos um corredor educativo, principalmente nessa área aqui do Barreto, muito grande. De escola pública só nessa via principal temos o Rosalina, o Altivo César, Mestra Fininha, André Trouche, mais ali nós temos o Henrique Lage, mais lá na frente nós temos o Pedro II, fora as escolas particulares. Então é um local onde as pessoas vêm muito para poder fazer suas atividades físicas. Nós temos uma quadra de futebol de salão e basquete também, que pode ser usada a hora que quiserem, o pessoal traz a bola, forma o time. Tem uma parte de skate pequena perto do jardim japonês. Então isso faz com que as pessoas venham pra cá pra poderem estar usufruindo e isso pra nós é gratificante.
Foto 3: Quadra do Parque Palmir Silva.
Reprodução: Arquivo pessoal.
Esportivamente, as aulas de Muay Thai e Jiu Jitsu são ótimas oportunidades, principalmente para os jovens que não possuem condições de pagar aulas desses esportes. Potenciais talentos, dos mais diversos esportes, são desperdiçados todos os dias em todo o município de Niterói. O Barreto, porém, parece querer ir na contramão dessa lógica, pelo menos com os projetos de artes marciais. Paulo Roberto exemplifica isso quando comenta sobre um dos alunos do projeto que foi medalhista de uma competição internacional.
- Tem o jiu jitsu, com o professor Cléber, inclusive, o filho dele [João Cléber, morador do Barreto] foi pra um campeonato em Dubai esse final de semana e ganhou a medalha de ouro, teve reportagem na televisão a respeito e tudo, então eles treinam aqui toda terça e quinta de 10h30 à 12h e de 14h às 16h.
O espaço do parque consegue ser bastante democrático e diverso, refletindo, de fato, o bairro. O professor Luciano é responsável pela turma dos alunos com necessidades especiais. Ele faz questão de destacar que o projeto possui em sua estrutura a inclusão social de forma geral todos os dias da semana, não somente na quinta, dia em que é realizada a aula para esses alunos.
- Às quintas-feiras, eu dou aula para pessoas com necessidades especiais. De segunda a sábado é inclusão social, é geral, mas às quintas-feiras é específico, é uma aula específica para alunos com necessidade especiais. [...] Minha dinâmica é deixar eles à vontade, depois vai ensinando a colocação das mãos, dos pés, porque muitos são temerosos ainda, mas é isso aí, vamos trabalhando com a técnica. Aprendo mais com eles do que eles comigo.
Longe de se negar esportiva e artisticamente, o projeto é essencialmente sobre como essas duas formas de expressão estão intimamente ligadas com a vida em comunidade. Sobre como a atividade física, o corpo em movimento e a proximidade entre as pessoas através dessa dinâmica consegue influenciar positivamente no convívio, nas relações pessoais dos indivíduos e na construção como cidadão.
Adorei o texto, foi super bem escrito e além disso o tema que você escolheu foi ótimo! Acho que você conseguiu tratar dele com muita delicadeza também
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