Por Andrezza Gomes
Em razão da pandemia, as escolas da rede estadual do Rio de Janeiro retornaram com suas atividades 100% presenciais somente no fim do mês de outubro. Faltando um pouco menos de um mês para o Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM, que aconteceu nos últimos domingos (21 e 28), os estudantes de Niterói tiveram que correr atrás do seu futuro, encarando diversas dificuldades.
Com o seu menor número de inscritos há mais de uma década, a edição do ENEM contou com mais de 200 mil vestibulandos cariocas. A professora de história Eleonora Abad, do Colégio Estadual Guilherme Briggs, em Santa Rosa, explicou que sem as aulas presenciais, muitos alunos preferiram esperar o próximo ano para realizar a prova: “Muitos não se inscreveram e preferiram tentar no próximo ano. Acho que teremos um ENEM ainda mais desigual esse ano entre estudantes da rede pública e da rede privada”.
Contudo, os alunos inscritos do Guilherme Briggs sentiram-se mais seguros mesmo com poucas aulas antes do exame: “Com a volta às aulas presenciais, notei que eu tinha uma necessidade maior de ter contato com os professores, de tirar as minhas dúvidas e conseguir perguntar durante a explicação de alguma matéria”. Sophia Souza, de 17 anos, completou: "Graças a volta às aulas presenciais consegui ter uma maior interpretação do que cada questão pedia e mesmo com a prova tendo um conteúdo atípico, eu pude traçar um pensamento lógico e responder". Seu colega de classe, Jonatas Monteiro, também disse que o retorno ajudou bastante na sua concentração: "Eu já estava estudando para outras provas (concursos) e isso ajudou bastante na minha preparação para essa prova e consegui me concentrar ainda mais indo no presencial".
Apesar de Jonatas e Sophia terem se adaptado bem ao leque de mudanças, muitos estudantes não conseguiram ter os mesmos resultados. Sem aviso prévio, quem já estava acostumado a estudar sozinho, teve que reorganizar a rotina para dar conta de tudo. Não contando apenas com a pressão de um vestibular, os alunos tiveram que se preocupar com trabalhos escolares, que não conciliavam com a boa realização da prova.
"Eu fiquei toda desorganizada, a um mês da prova mais importante da minha vida, tive que alinhar a escola a níveis que os professores não compreenderam que eu estava estudando para o ENEM. Eles jogaram muitas atividades em cima da gente, posso falar por mim e pelos meus amigos, porque a gente debate muito sobre isso e ficamos muito sobrecarregados. Meu nível de ansiedade subiu, fiquei muito ansiosa, fiquei uns três dias com a alimentação desregulada, tive distúrbio do sono, literalmente meu corpo sentiu muita mudança. Antes eu estudava mais ou menos umas 5 horas por dia e depois esse tempo caiu para zero, porque eu não conseguia manter a concentração, não conseguia sentar pra estudar, chegava a noite e eu tinha trabalho pra fazer, falavam: 'ah, a professora só vai deixar entregar só até amanhã' e nesses dois anos eu estava priorizando o ENEM, mas agora eu preciso me formar, então eu preciso também olhar para escola, porque o ENEM não vai me formar no ensino médio", desabafou Isabelle Freitas, aluna da Escola Liceu Nilo Peçanha, no Centro de Niterói, que sonha em fazer medicina.
Além da desorganização causada pelo retorno presencial, muitos estudantes não tiveram sequer a oportunidade de voltar para a sala de aula. Na pandemia, alguns alunos foram obrigados a escolher entre continuar estudando ou trabalhar para ajudar em casa, o que também contribuiu para o número discrepante em relação ao ano passado no ENEM.
“Não só eu, como todos os meus amigos fomos prejudicados de alguma forma. Tem gente que está trabalhando e teve que perder o técnico indo estudar a noite”, Kamyle Savanhani, estudante de técnico em administração no Colégio Estadual Aurelino Leal lamentou.
A professora Eleonora também falou sobre o agravamento da evasão escolar em suas turmas: “O retorno somente agora em outubro também é um problema em um contexto de crise econômica. Muitos estudantes estão trabalhando e não conseguem retornar”. O suporte dado pelo governo do estado durante o período sem aulas presenciais foi prejudicial para os que optaram por fazer a prova. Sem o acesso adequado a internet, alguns adolescentes tiveram dificuldades de acessar os conteúdos dado pelos professores.
“Nas aulas online, eu tinha uma certa dificuldade para aprender e isso atrapalhava principalmente para estudar para o ENEM. Com o retorno presencial, já houve uma certa mudança, consegui recuperar um pouco do tempo perdido”. Thaís Viana, que estuda no na mesma escola que Isabelle Freitas, contou sobre sua experiência durante o ano letivo.
Ainda que para alguns alunos o ano tenha sido pouco aproveitado, para outros, o apoio dos professores foi essencial, como já mencionado. Jamily Lousada quer fazer faculdade de Letras e se sentiu confiante depois do incentivo dos professores da Escola Liceu Nilo Peçanha e aguarda ansiosamente pelo resultado.
"Na minha situação em particular foi bom, pelo contato com os professores. Eu pude me tranquilizar, se não fosse o apoio dos professores, não sei se teria coragem de fazer o ENEM".
O gabarito oficial do ENEM 2021 pode ser conferido no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Nacionais Anísio Teixeira (INEP) e os resultados serão divulgados no mesmo site no dia 11 de fevereiro de 2022.
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