Por Flávio Lucas
Apesar de ter sido o palco de diversas conquistas e momentos históricos, como a conquista da Copa Conmebol de 1993 e o acesso para a Série A em 2003, o Estádio Caio Martins segue sem futuro definido em Niterói, já que o clube Botafogo de Futebol e Regatas não renovará o contrato de concessão.
O início
Localizado em Niterói, o Estádio Caio Martins foi fundado no dia 20 de julho de 1941, a pedido do governador Ernani do Amaral Peixoto, para que jogos do campeonato carioca pudessem ser disputados na cidade. A intenção inicial era de que o Canto do Rio FC (clube da cidade) disputasse as suas partidas no local, mas o estádio é marcado por sua ligação com o Botafogo de Futebol e Regatas.
Foto 1: Gramado do Estádio Caio Martins.
Reprodução: Divulgação SUDERJ.
Os nomes recebidos
Ao falar sobre um estádio tão histórico como o Caio Martins, é preciso voltar para o passado e se lembrar daquele que inspira o seu nome. O jovem escoteiro de 15 anos, Caio Vianna Martins, se tornou histórico após um acidente de trem, onde houve muitos feridos. Quando o resgate chegou, o garoto dispensou os cuidados para que outras pessoas pudessem ser atendidas. Horas depois, Caio faleceu de hemorragia interna – causada pelo acidente – e até hoje é lembrado como um verdadeiro herói entre os escoteiros.
O outro nome do estádio foi determinado por uma ação da câmara dos vereadores, no ano de 2000. O Estádio Mestre Ziza é uma homenagem ao jogador Zizinho, nascido em Niterói. Essa nomeação alternativa não foi muito utilizada pelos torcedores botafoguenses e nem pela imprensa que cobria os eventos no local, justamente por Zizinho ser um jogador ídolo no Flamengo.
O palco de memórias históricas
O legado histórico do Estádio Caio Martins é intrinsecamente ligado ao clube Botafogo de Futebol e Regatas. Dos anos 90 até o início dos anos 2000, o clube conquistou seus principais títulos no estádio – nem todas as finais foram lá, mas jogos foram disputados. Foram diversos títulos importantes conquistados no local e a criação de toda uma geração torcedora. Um desses torcedores é José Henrique, torcedor alvinegro de 55 anos, que viveu momentos importantes de sua juventude na antiga casa do Botafogo.
Em entrevista ao “Alô, Gragoatá!”, José contou a maneira que surgiu sua paixão pelo clube e garantiu que não deixará de torcer para o time do coração: “Quando o Botafogo estava no Caio Martins, eu era garoto. Quando a gente é garoto, a gente tem mais emoção em relação ao futebol, porque a gente não tem família para cuidar. A gente não tem quase nenhum trabalho, o nosso pai e a nossa mãe que trabalham! A gente só vai para o lazer, que na época era ver os jogos, e era uma alegria muito grande ir para o jogo do Botafogo. A gente que já torce desde pequeno não vai abandonar o clube, a não ser que ele feche as portas!”
Por se tratar de um estádio em Niterói, o Caio Martins facilitava que os torcedores alvinegros de Niterói e de municípios próximos, como São Gonçalo e Itaboraí, pudessem ver os jogos do time do coração de perto. Esse perto não se trata somente da distância de deslocamento, se refere também ao tamanho do lugar. Por se tratar de um estádio pequeno, o Caio Martins foi reformado no começo de 2003 e passou a ter capacidade de 15 mil pessoas no total.
Ainda na entrevista, José lembra que os preços da época e o acesso ao local eram bem mais fáceis: “Era uma época que a gente não tinha dinheiro para ir ao cinema. O futebol, então, era o número 1 para as pessoas se entreterem e então começaram a ir em todo jogo do Botafogo. O preço também era bem mais barato do que atualmente, hoje em dia tem ingresso da Libertadores por 800 ou 1500 reais, inacessível para muita gente! Para quem morava aqui em São Gonçalo, Niterói… Esse lado de cá da ponte, foi bem melhor do que agora que o time tá no Engenhão. Para a gente, fica bem longe.”
Foram diversos títulos disputados enquanto o Botafogo mandava a maioria dos seus jogos no Caio Martins, entre esses, os conquistados foram: Campeonato Estadual de 1990 (final disputada no Maracanã), Copa Conmebol de 1993 (o jogo de volta da final foi disputado no Maracanã), Campeonato Brasileiro de 1995 e o Campeonato Estadual de 1997 (com jogo final no Maracanã).
No ano de 2002, o Botafogo foi rebaixado para a Série B do campeonato brasileiro e logo no ano seguinte, em 2003, o clube alvinegro garantiu a tão sonhada volta para a série A. Diferentemente da série B de 2021, o título de 2003 ficou com o Palmeiras – o Botafogo ficou com a segunda colocação.
Foto 2: Time do Botafogo em 2003.
Reprodução: Acervo Jornal dos Sports.
Um pouco da emoção de ver o clube novamente na Série A pode ser vista na entrevista de Gabriel dos Santos ao “Alô, Gragoatá!”, torcedor de 18 anos, que não tinha tanta perspectiva para o clube nesta temporada de 2021: “A subida do Botafogo para a Série A foi inesperada, sendo bem sincero. Eu esperava que o nível do time fosse bem mais abaixo do que ele realmente foi. [...] O time foi campeão não sendo muito bom, mas sabendo respeitar a competição. Não tinha muito segredo do que se esperar. Em certo momento, o time chegou a embalar um pouquinho, demonstrou um bom futebol, mas no fim o que importa mesmo é você conseguir subir, conseguir o acesso à elite [dos clubes]. Jogando um futebol bonito ou não, você respeita a competição sempre! Se você conseguir subir, é um sinal de respeito à competição. Basicamente foi isso aí, por mais que os jogadores do Botafogo não sejam estrelas de renome, eles deram a vida para conseguir subir! Estar de volta [na Série A] para a gente já foi uma surpresa e mais ainda foi ver que éramos campeões.
Dessa vez, retornamos para José que nos conta um pouco de como era a atmosfera no caldeirão, apelido carinhoso dado pela torcida botafoguense ao estádio Caio Martins: “Era um estádio pequeno, gerava uma emoção muito grande, ele era quase um caldeirão mesmo! Quando você [o torcedor] chegava para ver um jogo lá, ficava muito próximo do campo. As pessoas que vinham enfrentar o Botafogo naquele tempo, quando viam a torcida em cima assim, desse jeito tão próximo, tinha que ser tinha que ter um time bem melhor e correr muito senão não aguentavam a pressão da torcida.”
O último jogo oficial da categoria masculina de futebol profissional do Botafogo foi na derrota de 2x1 a favor da equipe do Corinthians no ano de 2004. O principal artilheiro do time no estádio é o ídolo e atacante Túlio Maravilha, com 64 gols marcados no estádio.
O momento mais recente
No ano de 2005 as obras no Caio Martins foram desfeitas e o Botafogo deixou de utilizar o estádio para jogos e treinos da equipe profissional. Mais recentemente, o estádio passou a ser usado pelas equipes das divisões de base do clube, principalmente para treinamentos, mas também para jogos. A direção do clube declarou que não pretende renovar a concessão do estádio com a SUDERJ, com data de término em janeiro de 2023.
O jovem torcedor Gabriel nos contou um pouco de como foi ver as promessas do time do coração jogando no Caio Martins: "Eu cheguei a ir lá uma vez para ver um jogo do sub-20. Apesar do jogo não ter sido uma maravilha, foi bem divertido estar lá só por saber que o Glorioso já tinha sido muito vencedor lá"
Atualmente, o clube voltou a usar o estádio para disputar o Campeonato Carioca de Futebol Feminino. A equipe feminina chegou até as semifinais do torneio, na qual foi eliminada na disputa de pênaltis pelo Fluminense, no dia 20 de novembro de 2021.
Quanto ao estádio, existe a esperança de que, após o fim do uso do Botafogo, um clube da cidade de Niterói possa usar o local – Canto do Rio Foot-Ball Club.
Muito bom, queria ter pego essa época
ResponderExcluirParabéns, ótima reportagem e bom saber a verdadeira por trás do estádio
ResponderExcluirParabéns, ótima reportagem! ������
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