Expectativa x realidade: a situação de alunos que precisam se mudar para as proximidades da UFF

Uffianos duvidem a experiência de morar em Niterói durante a jornada acadêmica.  


Por Rafaela Veról


Foto 1: Print grupo de anúncios de imóveis no Facebook.

Reprodução: Acervo Pessoal.



“Dos momentos mais difíceis aos mais leves, todos me agregaram de maneira muito positiva e saudável. Eu não me arrependo da minha decisão, mesmo com as dificuldades”, assim explicou Cecile Mendonça, aluna de Jornalismo da UFF, sobre sua mudança de Fortaleza para as proximidades da Universidade em Niterói.


A cidade de Niterói é localizada na Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, há cerca de uma hora e meia da capital. Com o índice de aumento em investimentos imobiliários e comerciários, o poder aquisitivo dos moradores niteroienses é um dos mais altos de todos os municípios registrados, segundo dados levantados pelo IBGE em 2010.


A Universidade Federal Fluminense, que sedia 9 dos seus 18 campi em Niterói, recebe semestralmente alunos de todas as regiões do Brasil, principalmente pela boa reputação e as avaliações do MEC de excelência. Desde que aderiu integralmente ao SISU (Sistema de Seleção Unificado), em 2011, a UFF registrou significativo aumento dos números de demandas habitacionais. 

No mesmo ano, foi aprovada a construção de novos alojamentos no campus do Gragoatá, que contava com 7.812 novas vagas para alunos que comprovarem situação de renda insuficiente. Mesmo assim, quase 10 anos depois, as ofertas continuam escassas e os uffianos carecem de opções viáveis para a manutenção da jornada acadêmica. 


“Eu tinha alguns familiares em Niterói. Por causa deles, conheci a dona de uma rede de repúblicas que atendia alunos da UFF. O preço era justo e os imóveis bem confortáveis. Acabei alugando um quarto duplo e logo me adaptei às regras da casa”, conta Letícia Gusmão, aluna de Publicidade e Propaganda natural de Volta Redonda, cidade situada no Sul Fluminense. 


A busca por apartamentos nas imediações dos campi tornou-se comum no dia a dia uffiano. Grupos no Facebook, como os famosos “Repúblicas em Niterói” ou “Repúblicas UFF”, enchem as timelines de anúncios todos os dias. O aluguel varia de 400 a 850 reais, a depender do tipo de quarto, quantidade de pessoas e banheiros, tamanho do imóvel e disponibilidade de espaços comuns. Nos últimos dez anos, por conta da expansão da universidade e o aumento no número de alunos, o mercado de repúblicas cresceu notadamente nas proximidades do Gragoatá, o maior campus de Niterói. Próximo ao terminal de barcas, o bairro também atende muitos residentes cariocas, que optam pela estadia durante os dias úteis e atravessam a Baía somente nos fins de semana. 

A opção por alugar quartos em repúblicas, geralmente, é a mais atraente para alunos que procuram alternativas em conta para a permanência até a conclusão do curso. Por isso, ajudas de custo como o “Bandejão Universitário” e o “BusUFF” são fundamentais para a subsistência dos alunos. 


“O bandejão salvava as minhas refeições e das meninas que eu dividia apartamento. A gente almoçava lá quase todos os dias durante a semana. Era muito barato e valia super a pena. Se não fosse por isso, eu não sei se conseguiria arcar com todos os custos”, continuou Letícia Gusmão.


Apesar dos auxílios fornecidos pela comunidade acadêmica, ainda existe uma grande parcela de discentes que não possuem recursos para se manter e, por isso, ou precisam abandonar a faculdade, ou acabam nem realizando a matrícula. 


“Eu tenho noção de que o direito de escolha é um privilégio. Eu saí de Fortaleza porque sei que o Jornalismo ainda é muito centrado no eixo Rio - São Paulo. É a realidade de muitas profissões. Tive medo de ficar no Nordeste e acabar me prejudicando pela falta de opção. Isso é uma problemática muito forte e que me toca muito. No meu caso particular, eu pude contar com a ajuda financeira dos meus pais, mas sei que isso não é a realidade da maioria”, em desabafo, Cecile aborda a temática da desigualdade regional de oportunidades. “De qualquer forma, não acho que seja necessário uma grande mudança para alcançar o crescimento pessoal e profissional. Nós podemos buscar amadurecer por outros caminhos. O meu, em um lugar de muito privilégio, foi esse”, acrescentou. 


Antes do início do primeiro semestre letivo de 2020, o avanço da pandemia do Covid-19 interrompeu as aulas presenciais e o cotidiano universitário foi transformado. Salas cheias de cadeiras enfileiradas tornaram-se videochamadas em telas de computador. Calouros empolgados passeando pelos campi foram limitados ao enquadramento da webcam. Repúblicas cheias de alunos foram esvaziadas e fechadas. A distância impediu que mudanças tão sonhadas e planejadas fossem concretizadas. A expectativa foi rebatida com a mais dura realidade; e os verdadeiros dias de vida uffiana não chegaram. Não ainda, pelo menos. 


“Em 2020, quando estourou a pandemia, a universidade ainda estava de férias, então muitos inquilinos nem chegaram a retornar para as repúblicas. No caso dos que estavam em Niterói, todos voltaram para as suas cidades. Não tive procura durante esses dois anos de distanciamento. Antes, eu tinha três imóveis. Hoje tenho apenas dois. Foi difícil arcar com os custos de aluguel, condomínio e outras contas nesse tempo. Os apartamentos estavam vazios e muitos alunos cancelaram o contrato. Foi um caos”, relatou Rita, proprietária de uma rede de repúblicas em Niterói. Ao ser perguntada sobre o possível retorno presencial e o reaquecimento da economia, Rita respondeu: “Os alunos estão apostando na volta ao campus para o próximo semestre. Nesse início de 2022 estou tendo procura novamente. Por enquanto, consegui preencher todas as vagas. Mas ainda é tudo muito incerto.”


Na expectativa do retorno aos campi no período de 22.1, alguns alunos já iniciaram as movimentações necessárias para o recomeço das aulas presenciais. A aluna de Jornalismo, Letícia Souza, Governador Valadares - MG, optou pela mudança precoce para facilitar o processo de adaptação. “Eu decidi me mudar mesmo sem a certeza do retorno presencial. Pensei que seria mais tranquilo para eu me ambientar na nova cidade, sem ter que me preocupar com a ida para a faculdade. Acho que foi o melhor para eu me sentir segura quando retornarmos ao campus”, esclareceu a estudante. “Apesar da pandemia, até que foi fácil encontrar uma república. Eu vim com os meus pais e fiquei uma semana procurando apartamentos para alugar. Eu visitei uns três imóveis e decidi pelo o que eu estou agora. Tem aumentado bastante a procura de repúblicas na expectativa do retorno presencial, mas ainda tem muitas ofertas de ótimo custo-benefício. Acredito que quando o campus reabrir, os preços vão ficar mais salgados”, completou. 


Por outro lado, há a parcela de uffianos que não sabe o que esperar dos próximos semestres e, por isso, ficam inseguros ao tomar decisões definitivas. 

No caso de Fabíola Vanessa, da cidade interiorana de Três Rios - RJ, é inviável comprometer um aluguel antes de uma resposta da UFF. “Eu nunca fui à Niterói e fico na dúvida se fecho um aluguel ou se espero um posicionamento formal da universidade sobre o retorno presencial. Tenho medo de aguardar a certeza e acabar não conseguindo encontrar um lugar acessível, já que as repúblicas próximas do campus enchem e os preços tendem a aumentar. Ainda precisamos considerar as ondas de novas variantes da Covid-19. Isso pode interromper o nosso retorno. Nada é certo ainda”, destacou. 


O lema dos universitários exaustos de ensino remoto tem sido: “a esperança é a última que morre”. As apostas são altas e otimistas, apesar das incertezas da pandemia. A torcida é para um retorno em breve, seguro e com todos os recursos disponíveis para apoiar a comunidade acadêmica. 


“A minha expectativa é que as aulas presenciais voltem com segurança, bandejão reaberto, BusUFF circulando e que os alunos estejam seguros para um retorno bem sucedido”, encerrou Fabíola.


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