O calendário da UFF na pandemia e seus impactos na vida acadêmica

 Com um período de 3 meses para ensinar e estudar o que era aplicado em 4, alunos e professores expõem suas realidades.


Por Ana Carolina Ferreira 



Campus da UFF no Gragoatá. Reprodução: Paula Fernandes



No dia 26 de fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de coronavírus no Brasil. Em 11 de maio do mesmo ano, Niterói decretou lockdown (medida restritiva de tráfego e circulação de pessoas) para conter a contaminação pelo vírus. Com o avanço da COVID-19, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPEx) da Universidade Federal Fluminense (UFF) regulamentou a resolução de 14 de agosto de 2020, que declarava o ensino remoto emergencial, o qual perdura até os dias atuais.


Com a notícia do retorno das aulas através do ensino remoto, os alunos recuperaram a esperança de uma vida acadêmica ativa. Juliana Palmerim, que ingressou na UFF no primeiro período de 2020, resume muito bem esse sentimento. "A notícia de que teríamos aulas online foi muito boa na época. Isso porque as aulas só foram começar em setembro de 2020 e antes parecia que esse ano seria completamente perdido e que os nossos estudos ficariam muito atrasados. Então, mesmo que não fosse da maneira que todos gostaríamos de estar estudando, era a melhor maneira possível naquele momento”, afirmou. 


Entretanto, com um semestre atrasado, a única solução foi retomar as aulas remotamente e ajustar o calendário. Para tal, foi necessário reduzir o período em três meses de forma que, em um ano, três semestres fossem aplicados em 2021, no lugar dos dois períodos com quatro meses de estudo. Muitos foram afetados pelo novo calendário, como o professor Rômulo Normand, que afirmou: "Além da UFF, também trabalho numa instituição privada, a qual nunca mudou o calendário. No momento, estou de férias dessa instituição, mas ainda lecionando na UFF. Terei recessos absolutos somente em janeiro de 2023. Os calendários dessincronizados estão me afetando muito, pois já são 2 anos sem descansar. É a forma que temos de lidar com a pandemia, pois precisamos regularizar o calendário, mas é um esforço.”


O cansaço perante o formato afeta tanto professores quanto alunos na busca por uma regularização do calendário. Mudanças na dinâmica das aulas foram muito presentes, bem como afirma a resolução da CEPEx, a qual declara que o docente pode aplicar até 30% da carga horária da disciplina no formato síncrono (aulas ao vivo), e que atividades assíncronas (extraclasse) devem ser priorizadas. 


Tal mudança faz sentido, levando em consideração que os alunos tendem a perder a atenção facilmente durante aulas online, além de, após certo tempo, não aprender plenamente a matéria. Porém, essa situação pode não apresentar os resultados esperados, e os alunos se sentirem sobrecarregados com tantas tarefas extraclasse. De acordo com a aluna Juliana Palmeirim,  “No último período, eu fiz mais de 60 trabalhos. Isso acaba sendo mais cansativo do que produtivo. Eu acredito que a aplicação de atividades assíncronas ajudam o aluno a fixar a matéria e eu sinto que aprendi muito fazendo os trabalhos que passaram durante o ensino remoto, mas em excesso eu não concordo. Trabalhos em excesso, carga horária cheia e pausas curtas, geram ansiedade, introversão, estresse e outros problemas que acabam refutando os benefícios de se fazer essas atividades.“


A professora Ana Cláudia Cruz, que trabalha na UFF há 13 anos, notou situações como essas. “Eu tive colegas que passavam um monte de trabalhos, como se os professores tivessem que ocupar os alunos até mais do que seriam ocupados indo pra universidade normalmente. Eu acho que nesse período remoto, isso piorou muito” afirmou.


O cenário não é o ideal para aqueles que pretendiam se formar ou lecionar da melhor maneira possível. O espaço físico da faculdade é extremamente importante não apenas por sua estrutura e equipamentos necessários para o aprendizado, mas, também, pela diferenciação entre local de estudo e local de descanso. 


Apesar das dificuldades, ainda foi possível adquirir aprendizados com a adaptação ao ensino remoto. Bem como afirmado pela aluna da UFF Nicolle de Moraes, “Esse período de estudos remoto têm sido caótico. Mas também abriu espaço para vermos que conseguimos fazer tudo, mesmo que de forma limitada”. Logo, tendo em vista o cenário da pandemia, é necessário que a comunidade acadêmica atente para as restrições e medidas de proteção contra a COVID-19, para que o retorno gradual e seguro das aulas presenciais se concretize ainda esse ano. 


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