Adaptações, cobranças e muito esforço são pontos frequentes na rotina, relatam universitários que estudam e trabalham.
Por Carol Peres
Foto 1: Carteira de trabalho
Reprodução: Gov.br
Disciplinas obrigatórias, optativas e eletivas, juntamente às atividades complementares, são apenas parte da carga horária que os estudantes devem cumprir ao longo dos períodos para se formar na Universidade Federal Fluminense (UFF). Somados à grande demanda de estudos cobrados dos alunos, o estágio e o emprego surgem como diligências que requerem um esforço ainda maior dos discentes. Assim, os alunos que conciliam trabalho e estudo precisam constantemente fazer diversas adaptações em suas vidas e lidar com várias dificuldades para conseguirem um bom desempenho em ambos.
Manter-se na universidade não é uma tarefa fácil, principalmente no âmbito financeiro, e mesmo que a UFF ofereça auxílios, a quantidade de vagas é limitada, sendo 2340 vagas no total para distribuir para todos os estudantes, segundo o site da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PROAES). Devido a isso, muitas pessoas não têm outra opção senão trabalhar, o que pode causar diversos obstáculos na busca por um diploma.
Um grande problema é o conflito entre horários, principalmente em cursos que são integrais. A estudante Anna Finamor, graduanda de Jornalismo e aprendiz de assessora de comunicação em uma empresa da sua cidade natal, relatou que essa é uma das suas maiores dificuldades. De acordo com ela, mesmo tendo a possibilidade de trabalhar em modelo híbrido, a grade ainda é uma adversidade. “Eu bato meu ponto às 14h, mas às 14h eu já estou na faculdade, então eu não cumpro toda a minha jornada de trabalho que eles propõem”, comentou.
Renata Rezende, professora do curso de Jornalismo, mencionou que a questão da falta de tempo pode influenciar diretamente no resultado dos estudantes. “Os alunos que só estudam geralmente dedicam muito mais tempo à universidade e, com isso, fazem os trabalhos de uma forma mais dedicada e com mais cuidado. É claro que isso não é algo determinado. Tem muitos alunos que trabalham que também se dedicam bastante, então tudo depende da gestão de tempo e organização que os alunos fazem”.
Para tentar dar conta dos dois, é necessário que se façam diversas adaptações na rotina, tanto na vida pessoal, como em questões relacionadas à faculdade. A aluna de Jornalismo, Fabia Mauler, além de trabalhar como estagiária de comunicação na Câmara Municipal de Niterói, dá aulas de inglês, portanto, ela precisou fazer muitas mudanças para lidar com tudo. Fabia contou que precisou deixar algumas das matérias obrigatórias do seu período para serem realizadas apenas no próximo, além de ter feito, também, outros ajustes. “Tive que mudar principalmente minha rotina de sono. Hoje em dia, vou dormir no máximo 00h porque às 7h eu já tenho que estar acordada e ficar na rua até umas 19h/20h. Acho que isso foi o que mais mudou na verdade, porque com a faculdade eu não posso mais parar em casa depois do trabalho, tenho que sair 8h30 da manhã com a minha vida toda na mochila e aguentar até à noite”, explicou.
Mesmo que esses alunos estejam fazendo um verdadeiro malabarismo entre as atividades das suas disciplinas e as responsabilidades dos seus empregos, nem sempre tudo permanece em equilíbrio, e é possível que seus rendimentos em um dos dois, estudo ou trabalho, seja afetado. Conforme afirmou Laura Santos, que cursa Química Industrial e trabalha em um restaurante aos fins de semana, existem vezes em que você não consegue fazer todos os trabalhos. Ela citou um caso específico sobre uma atividade proposta pelo professor: “Uma atividade foi postada online no meio da semana para ser feita no final de semana, eu não consegui ter tempo para fazer durante a semana e acabei não fazendo por trabalhar aos finais de semana”. Laura ressaltou também que é necessário muita disciplina para conciliar os dois e, por isso, é comum o sentimento de sobrecarga. “Acaba sendo muita coisa para pensar, muita coisa para administrar”, disse Laura.
Unindo-se a todas essas dificuldades, ainda há o fator psicológico. Para Anna, ter tantas responsabilidades faz com que ela se sinta muito pressionada e abalada. “Você acha que, porque você não se esforçou o suficiente na faculdade, ou porque não se esforçou o suficiente no trabalho, que você sofre algum risco de ser demitida, de levar uma advertência ou de ficar reprovada. É bastante pressão.”
Fabia destacou também que precisa abdicar de seus momentos de lazer, o que também pode afetar sua saúde psicológica. “Com certeza também tenho que abdicar muito da minha vida social e pensar mais nesses pontos de trabalho e faculdade, mas eu tento fazer tudo dar certo.” Em relação a isso, a professora Renata afirmou que nota que seus alunos têm ficado muito ansiosos e muito estressados devido à pressão do trabalho e da graduação.
É importante que se fale sobre a dificuldade de conciliar os estudos com o trabalho e buscar maneiras de facilitar a vida desses estudantes, de forma a evitar a evasão da universidade. De acordo com Anna, um pouco mais de compreensão por parte dos docentes já seria de grande ajuda. “Esse seria o suporte necessário, empatia! Entender a situação, pensar em uma grade de horários em que os alunos que trabalham possam comparecer às aulas, e ter consciência que existem estudantes que precisam trabalhar para viver”.
Entretanto, até que a universidade melhore nesse quesito, buscar ajuda psicológica pode ser de extrema utilidade para lidar com a sobrecarga. Vale ressaltar que a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis oferece escuta psicológica gratuita para os estudantes matriculados na Universidade Federal Fluminense. Tudo que o necessitado precisa fazer é preencher um formulário, que fica disponível no final de todo mês no perfil “@proaes”, no Instagram, e marcar uma sessão. Dessa maneira, um pouco da pressão existente sobre os universitários que também estão no mercado de trabalho poderá ser aliviada até que medidas cabíveis à situação desses estudantes sejam tomadas.
Texto muito bem elaborado .
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