Com a flexibilização da pandemia, a volta da Cantareira emociona estudantes

Após 2 anos de pandemia, a Cantareira retorna às atividades, reafirmando sua importância cultural para a UFF e para Niterói. 

                                 

Por Julia Miranda


Com a chegada da COVID-19, as instituições de ensino tiveram que se reorganizar para diminuir o risco de contágio pelo novo vírus. Na Universidade Federal Fluminense não foi diferente, os alunos tiveram que assistir às aulas de maneira on-line, perdendo o contato uns com os outros e deixando de frequentar um espaço que antes era parte de sua rotina. Consequentemente, a praça da Cantareira e o bairro de São Domingos ficaram vazios, pois o que movimenta o local é a universidade, que faz com que pessoas de diversos lugares frequentem o bairro. Todo esse cenário afetou diretamente a economia da região e os trabalhadores perderam sua fonte de renda ou foram demitidos.  


Foto 1: Pessoas reunidas na Praça da Cantareira quinta  a noite  - Praça Leone Ramos 

        Reprodução: Arquivo pessoal 



“Foi muito fraco, não tinha ninguém. A gente não trabalhou, ficamos desempregadas. Agora que estamos retornando”, comentou Juliana (39), trabalhadora do trailer de pastel há mais de 30 anos. Ela ainda complementa destacando a importância da universidade para o movimento na praça: “Sem os alunos a gente não tem renda”. 


Em março de 2022, o avanço da vacinação e a diminuição do número de casos de COVID possibilitaram que a UFF retornasse às aulas presenciais. Tudo isso influenciou diretamente no fluxo da Cantareira, e finalmente os bares, restaurantes e trailers voltaram a ficar movimentados. 


“Foi muito bom poder voltar, né! A pandemia inteira eu não sai, não ia para aglomeração e nem nada do tipo. Ir pra Cantareira foi uma das primeiras coisas que eu fiz nesse retorno de voltar ao ‘normal’ e ir a um lugar cheio, então eu fiquei muito feliz de estar lá, de estar com minhas amigas”, disse Renata (23), estudante de Serviço Social no 8° período e frequentadora da Cantareira desde o primeiro período de faculdade. 


Os antigos alunos ficaram muito felizes e emocionados com o retorno das atividades na Cantareira. Já os calouros foram surpreendidos com a diversidade ali presente e acabaram se tornando novos frequentadores do local. 


“Eu ia raramente, mas não era algo frequente. O que eu gosto na Cantareira é que há diversos bares e restaurantes, casarões históricos e que também é um local que reúne várias crenças, várias atrações artísticas, além de unir diversos jovens e estudantes da UFF. Tem roda de rima, capoeira, são várias culturas diferentes no mesmo local”, relatou Igor (19), calouro de Empreendedorismo da Universidade Federal Fluminense.


A volta das atividades na praça e a volta do fluxo de pessoas foi um alívio para os comerciantes e para os alunos que estavam sentindo falta de ocupar aquele espaço. A Cantareira volta reafirmando sua importância cultural para a cidade, destacando-se por unir diferentes tipos de pessoas, por ter eventos muito variados e por ser um local aberto, totalmente democrático. A cada dia da semana ocorre um evento ou atração diferente. Segunda é dia do animado forró. Na terça, de 15 em 15 dias, ocorre a roda cultural, que acontece bem no centro da praça e mistura sarau de poesia, com batalha de rima, doação de livros, etc. 


“A roda cultural da Cantareira é importante porque ela fomenta um pouco da cultura hip hop, incentiva jovens artistas, poetas, artistas de qualquer segmento a apresentarem o seu trabalho, a continuar produzindo e ter um lugar seguro em que possam compartilhar seu trabalho, apresentar ele para diversos públicos, podendo sim ou não alavancar sua carreira de alguma forma. Além de movimentar a economia, trazendo público para a praça da Cantareira, onde tem muitos camelôs e comerciantes que tiram seu sustento dali”, comentou Nofi (23), organizador da roda cultural e ex-aluno da UFF. 


Na quinta-feira geralmente é o dia que mais enche, pois ocorre a famosa

 “Quintareira”, em que os alunos, ao final de suas aulas, se encontram na praça. “Como eu falei o que eu mais gosto na Cantareira eu acho que é essa democracia que o espaço tem, de agregar gente de todo tipo, de todos os lugares e de fomento de cultura, seja lá hip hop, seja forró, seja do reggae, de outros movimentos que ocorrem ali na praça. Acho que essa democracia é o que difere a Cantareira de outros pontos culturais da cidade”, disse Nofi. 


A Cantareira é muito importante para a cidade de Niterói e para todos os que a frequentam. O local reúne o passado com o presente, é cercado de diversos bares, restaurantes, trailers e casarões históricos. A estátua no centro da praça e os trilhos dos antigos bondes no chão não deixam que a história do bairro seja esquecida. A Cantareira se tornou uma tradição para os alunos da Universidade Federal Fluminense, unindo pessoas dos mais diferentes estilos e culturas.

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