Imersão Criativa: uma nova perspectiva para o Morro do Palácio

Coletivos se juntam e promovem oficina de direção de arte na comunidade do Morro do Palácio.


Por Vivian Oliveira

Foto 1: Oficina Imersão em Direção de Arte 

Reprodução: Bia Póvoa


Como criar uma visão de futuro quando o sistema tenta nos cegar? Como oferecer perspectiva de vida quando não se tem oportunidades de experimentação das vivências mundo afora? Moradores de áreas periféricas vivem a falta de acesso a oportunidades de emprego e qualificação. Isso se dá ao preconceito estabelecido e também pela falta de incentivo. Para burlar esse ciclo, projetos sociais e coletivos disponibilizam oficinas para a comunidade, oferecendo, assim, uma perspectiva de conhecimento que lhes é negado.


Um exemplo disso foi a imersão em Direção de Arte, que aconteceu no Morro do Palácio, produzido pela DiCria, uma plataforma de fortalecimento e criação de redes pensada na escassez de conteúdos, voltada para a capacitação acessível e eficiente na área de produção cultural representada por Tali Ifé e Ana Acioli, juntamente à Ororo, um trabalho em dupla de direção criativa e de arte, produção de arte, foto e designer criadas por Xuniro e Paulo Ribeiro. Os dois coletivos são formados por moradores do morro. 


"É muito importante que a favela crie mecanismos para burlar a falta de acesso que nos é imposta, por isso é tão importante e gratificante para gente fazer parte dessa ação com a DiCria que tem constantemente pensado em ações para movimentar a nossa comunidade do Palácio.” explicou Xuniro. 


A oficina buscou ofertar a experimentação plena em direção de arte. Os participantes tiveram noção teórica da direção de arte, roteiro, direção, fotografia e produção, departamento de arte, a pré, a gravação e a pós, e também tiveram exercícios de criatividade, para conseguirem pensar na direção como algo além da técnica. Existiu também um momento de ensaio fotográfico, onde eles se juntaram em duplas e produziram todo o ensaio com as noções aprendidas.

Foto 2: Ensaio fotográfico realizado na oficina.

Reprodução: Bia Póvoa


A própria Ororo é fruto de atividades produzidas nas comunidades para ela mesma, como o GatoMídia que realizou uma imersão sobre afrofuturismo e tecnologia no Complexo do Alemão, ou o AfroLab que falou sobre criatividade e negócios. Esses projetos foram onde os grandes centros de capacitação se recusaram a ir, oferecendo conhecimento que não é achado facilmente por aí às pessoas com muito potencial, mas que vivenciam coisas específicas no seu dia a dia, muitas vezes impossibilitando o seu contato com os assuntos.


Em entrevista, Ana Acioli explicou que “a proposta do laboratório é criar espaço de troca de saberes e conhecimento, democrático e acessível, onde corpos periféricos consigam estar para aprender e serem detentores do saber. Entende-se que esses corpos têm uma vivência específica no mercado de trabalho e que muitos não tiveram oportunidade de estudar e aprender”.

Foto 3: Participantes da oficina

Reprodução: Bia Póvoa


A favela é um ambiente muito subestimado, visto com uma percepção totalmente deturpada por conta do racismo estrutural que molda a sociedade. Oferecer esse tipo de oficina na comunidade, principalmente sendo ela promovida pelos próprios moradores para eles mesmos, é abrir caminhos e aumentar os horizontes muitas vezes nem imaginados, potencializando ainda mais um lugar que já é forte.


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