ADT- Arte de Transformar: projeto leva esperança para adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas

Por meio da arte e do rap, iniciativa fomenta a transformação na vida de jovens que estão em situação de privação de liberdade. 


Por Julia Miranda


Foto 1: Visita do ADT no Degase masculino (EJLA)

Reprodução: Arquivo pessoal-Talita Jório




A parceria do projeto ADT com o Degase (Departamento Geral de Ações Socioeducativas), começou a ser construída na Escola João Luiz Alves (EJLA),  localizada na Ilha do Governador/RJ. Inicialmente, o projeto seria um recurso a ser utilizado pela equipe de terapia ocupacional a fim de realizar atendimentos terapêuticos, através da arte, com jovens que necessitavam de acompanhamento da equipe de saúde mental. Entretanto, o ADT se consolidou e tomou uma dimensão maior do que o esperado. O projeto passou a ser implementado em várias unidades de internação do Degase e se expandiu para outras áreas, além da saúde mental.


Apesar de terem conseguido levar o projeto para outras unidades de internação, o produtor Matheus Caminha(Mathiolo) relata que tem pretensão de atuar em outros espaços: “A gente também tem vontade de ir para instituições, escolas, comunidades menos favorecidas, tribos indígenas, faculdades, para onde a informação não chega. No intuito de ter essa troca de experiência, de debates, levar esse conhecimento ‘né’ e mostrar na prática o nosso dia a dia“.


Segundo dados do MPRJ, entre janeiro de 2008 e setembro de 2020, dos 43.591 adolescentes atendidos pelas unidades do Degase, 94% têm média de idade, em sua primeira passagem, de 16 anos para meninos e 15 anos para meninas. O ADT tem como objetivo fazer com que esses jovens conheçam um mundo novo, para que possam transformar a realidade em que vivem e buscar um novo caminho. O projeto estabelece uma ponte entre os jovens e o mercado da música, produzindo material para que eles possam usar assim que saírem das unidades de internação. Como o nome diz: “ainda dá tempo” de transformar! 


Por meio de oficinas de música, trocas de experiências e muito diálogo, o projeto acontece uma vez por semana nas unidades de internação. A cada encontro, um dos 10 módulos é trabalhado. Entre eles: composição de letra, direito autoral, distribuição digital, show, fonograma, flow/métrica, gravação de voz, produção de música e clipe, lei da atração e produção executiva. No final, o resultado dos clipes e gravações é apresentado para os jovens. 


“Nossa intenção é dar esse material, essa ferramenta para eles, uma nova luz no fim do túnel. (...) O nosso intuito é que os jovens tenham uma nova oportunidade, uma nova chance, uma nova opção”, comenta Mathiolo(34).


Foto 2: Captação de Voz- Degase masculino (Escola João Luiz Alves)

Reprodução: Arquivo pessoal-fotógrafa Renata Anchieta


Em conjunto, o produtor executivo Mathiolo e os diretores musicais Mozart e Knust, idealizaram o ADT e, atualmente, dirigem o projeto. Além disso, ele também é integrado por outros profissionais e por outros músicos convidados eventualmente. O ADT já contou com a participação de artistas como: Nissin –do Oriente –, Dj Chris Beats, Funkero –do Cartel Mcs –, RNT, dj Saci, entre muitos outros. 


Para Knust(23) , “Quando os jovens passam por todo o processo e ouvem suas músicas, dá para sentir a felicidade por suas realizações, amenizando o processo de estar privado. E eles sempre voltam otimistas nas próximas visitas, com novas letras, novas ideias e novos sonhos”. 


O adolescente de 17 anos que cumpriu medida socioeducativa na Escola João Luiz Alves e viveu a experiência do projeto, relata: “Então, quando eu fui preso eu tinha 15 anos e minha mente era muito avançada. Eu não escutava ninguém, não queria saber, chutava tudo, tentei fazer até rebeliões. Mas aí depois, quando eu subi pra EJLA, eu também continuei, não vou mentir, fiz umas bagunças. Mas depois de um certo dia, eu percebi que se eu ‘tirasse com o corpo’, eu não ia conseguir, eu ia sempre ‘se ferrar’, ia demorar mais tempo para sair. Eu fui percebendo que eles estavam ali para me ajudar, para me aconselhar. Quando eu parei para escutar eles, percebi que era uma coisa boa. Tipo, eu nem vi o tempo passar, quando eu descia eu pintava, distraia a mente, às vezes tomava até café. Me ajudou bastante, minha mente foi melhorando, eu fui amadurecendo mais”. 


“Esse projeto do Degase me ajudou muito. Eu agradeço muito a eles, e agradeço a Deus por ter me colocado lá dentro, para eu ter a mente que eu tenho hoje em dia, de trabalhar, buscar coisas novas para mim, mais melhoria”. Para ele, o projeto pode ajudar muitos jovens lá dentro, fazendo com que eles amadureçam e mudem de vida, aprendendo a ouvir e a respeitar o outro. Desse modo, quando saírem das unidades de internação, poderão estudar, trabalhar e batalhar pelos seus sonhos, assim como foi no seu caso. Projetos como o ADT são muito importantes no auxílio desse processo, transformando a vida desses adolescentes socialmente, mentalmente e até financeiramente. 


Para mais informações sobre o projeto acesse:

https://www.instagram.com/adtoficial021/


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