O impacto do bandejão na vida dos estudantes universitários

Mesmo com o aumento do custo de vida, a UFF mantém o preço das refeições por apenas R$0,70 centavos, democratizando o acesso ao Restaurante Universitário.

Por Melissa Lois


Devido ao aumento da inflação, o custo de vida aumentou consideravelmente. Fazer compras no mercado, colocar gasolina no carro e até mesmo andar de transporte público, que deveria ser um valor acessível, virou o pesadelo da maioria dos brasileiros. Segundo o site Correio Braziliense, o número de pessoas no país sem acesso pleno e permanente à comida aumentou, e hoje são 19,1 milhões de brasileiros nessa condição. Como se não bastasse essa árdua realidade, na última sexta-feira (03), o site do G1 divulgou que o ministro da educação, Victor Godoy, afirmou que haverá um corte na verba destinada às universidades federais de 7,2%. Mesmo diante desse cenário, há uma coisa boa para os universitários que dependem do RU: a UFF reconhece essas circunstâncias e manteve o preço de R$0,70 centavos.

O jornal Gazeta do Povo expôs o resultado de um levantamento feito pelo Vida na Universidade, com todas as universidades geridas pelo Governo Federal, e chegou à conclusão de que, entre as 59 universidades federais do país, os alunos da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) estão entre os que mais gastam para se alimentar nos campi, sendo considerado o bandejão mais caro do Brasil, mesmo com relatos de alunos reclamando da infraestrutura e da logística. Em contrapartida, a UFF está entre os resultados mais positivos do levantamento, com o valor de R$0,70 centavos. Este custo é o mais baixo das universidades públicas e particulares do país, com uma infraestrutura impecável e comida excelente.

Sob essa perspectiva, Maria Eduarda Queiroz, graduanda de Ciências Sociais na UFRJ, informou o valor da refeição na sua universidade e deu sua opinião sobre o bandejão da UFF, como espectadora e aluna de uma federal no Rio de Janeiro: “Na UFRJ, tanto na PV quanto no Fundão atualmente está custando R$2,00. Eu acho justo esse valor, visto o preço extremamente alto dos alimentos hoje em dia [...] Eu não sei como é de fato o bandejão na UFF, mas só pelo fato de ser R$0,70 centavos já é muito legal. [...] É um fato que o bandejão salva muitas pessoas que às vezes fazem as únicas refeições ali, e não tem nada melhor do que se alimentar por R$0,70 centavos, principalmente pelo momento econômico que vivemos hoje”. 

Para Andreia Chagas, nutricionista do Restaurante Universitário da UFF, reconhecer que os preços baixos da alimentação, mesmo com os valores onerosos do mercado de hoje, é de extrema importância, já que se trata  de uma universidade pública, que claramente tem como preocupação a democratização ao acesso dos alunos. “Minha opinião pessoal, como nutricionista, é que esse valor tão abaixo do custo real de uma refeição de qualidade, contribui para a política de permanência estudantil, suprindo as necessidades nutricionais básicas para as grandes refeições do dia, almoço e jantar”, afirmou.

Foto 1: Restaurante Universitário da UFF
Reprodução: Site oficial da UFF 

A nutricionista citou como esse valor contribui para a permanência estudantil e como é um dos fatores mais importantes que o RU oferece para os alunos. Pedro Vinícius Leal, aluno de Publicidade e Propaganda da UFF, declarou que só consegue ter as refeições básicas devido ao bandejão, pois sua casa é muito distante da universidade. “O bandejão me favorece pelo fato de eu morar longe da faculdade e muitas vezes não dá tempo de almoçar em casa, já que saio 12:00 para assistir aula, e o ônibus que pego pra Niterói passa 12:30. [...] E no caso da janta, se eu for embora às 18:00, é o horário que as pessoas também estão voltando do trabalho, e nisso eu pego trânsito. Eu almoço, cerca das 13:30 da tarde, e depois se for esperar chegar em casa, só irei jantar depois das 19:30 ou 20:00. Ou seja, o bandejão me favorece pois consigo fazer duas refeições e chegar em casa sem estar com fome”.

Além disso, a nutricionista também relatou como é pensado o cardápio para milhares de estudantes: “O RU da UFF tem função social, sem fins lucrativos e tem por finalidade: Fornecer alimentação balanceadas às necessidades nutricionais básicas da comunidade universitária, dentro dos padrões de segurança alimentar; pensando nisso, é primordial mantermos as preparações produzidas diariamente, com gêneros seguros sob rigoroso controle de qualidade da equipe técnica de nutricionistas, servidoras efetivas da UFF”.

De fato, pode-se perceber que o bandejão tem como premissa essencial a inclusão de todos os grupos socioeconômicos, mas dando foco total no amparo para as pessoas de baixa renda. Francisca Letelier, aluna de sociologia da UFF declarou: “É um valor acessível para todo mundo, acho um valor inclusive extremamente simbólico. O que a gente come lá dentro, pelo o que a gente está pagando, é completamente surreal”. A graduanda ainda acrescentou elogios sobre a logística do RU: “Eu não tenho o que reclamar do Restaurante Universitário da UFF! Todos os funcionários são super solícitos, simpáticos, estão ali desde manhã, bem cedo, preparando uma comida extremamente saudável, gostosa e por um preço acessível”.

No viés do preparo da comida, a futura socióloga tem razão. De acordo com a nutricionista do RU, a primeira equipe de funcionários inicia o turno às 6 horas da manhã. Cerca de 100 funcionários, diretos e indiretos, trabalham em 3 turnos para garantir que as preparações cheguem aos alunos do próprio Gragoatá, onde são produzidas, como nos restaurantes externos da Praia Vermelha, Reitoria, Veterinária e o Hospital Universitário Antônio Pedro. Os restaurantes externos, no momento, recebem as refeições em quentinhas, devido às obras. Os alunos não têm noção, mas toda essa equipe é mobilizada para servir 5.500 refeições por dia. É uma grande demanda! 

No entanto, apesar de todos esses benefícios abordados, há uma grande parte dos alunos que ficam insatisfeitos com o tamanho das filas. Pedro Vinícius é um deles: “A minha maior crítica ao RU são os tamanhos das filas. Eu entendo que são vários estudantes para comer, mas eu acho que poderia ser feito um projeto para que os alunos não fiquem muito tempo na fila.” Por outro lado, Andreia Chagas explica o porquê as filas ocorrem: “O valor de R$0,70 centavos não atrapalha o preparo, mas trabalhamos dentro das possibilidades disponíveis. Se fosse um valor um pouco maior, ainda sem impactar tanto no orçamento dos alunos, poderíamos investir tanto nas estruturas dos RU 's, quanto em outros gêneros e aumento da mão de obra”.

É importante para todos os alunos, professores e funcionários esse conforto de ter uma comida boa e muito barata, mesmo com o aumento dos preços. Além desse fato, percebe-se que a UFF é uma instituição que corrobora e compactua com a democratização ao acesso ao RU e a outras questões econômicas, como dito nas falas da nutricionista: “Há os alunos que têm direito à gratuidade, e diversas bolsas e auxílios concedidas pela UFF para alunos regulares em situação de vulnerabilidade econômica”.


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