Os invisíveis: como a cidade de Niterói enxerga e lida com o aumento dos moradores de rua

Com a fome em ascensão, a população e órgãos públicos estão vendo os reflexos de uma crise nas ruas do centro da cidade.


Por Anna Clara Finamor 


Colchões nas calçadas, cobertores no chão e pessoas dormindo onde conseguem, essa é a realidade vista por todo lado. Segundo dados da Secretaria de Direitos Humanos, cerca de 500 pessoas se encontram em situação de rua apenas no centro de Niterói. Juntando toda a extensão territorial da cidade, o número vai aumentando cada vez mais. 


Para compreender o cenário descrito acima, é preciso entender a situação que cerca todo o país. A pesquisa realizada pela Rede de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Pensam), aponta que 58,7% da população brasileira vive com algum tipo de insegurança alimentar. Dados como esse, reforçam a problemática do aumento do nível de pobreza nos núcleos familiares. 


Além disso, a alta taxa de desemprego também assombra a população. O resultado mais recente do IBGE aponta que 12 milhões de brasileiros vivem à procura de emprego. Somando esses dois fatores, desemprego e a falta de direitos básicos, como alimentação e moradia digna, as pessoas encontram como saída as ruas. 


Na tentativa de auxiliar e acolher os grupos que se encontram vulneráveis nas ruas, a prefeitura de Niterói realiza campanhas junto à secretaria de assistência social para prestar serviços de saúde, apresentar abrigos e distribuir itens essenciais. A educadora social da casa de direitos humanos, Lara Bernardo, afirma que as medidas tomadas pela secretaria nem sempre são eficazes. “Muitas pessoas não querem ir para as casas de acolhimento porque sabem que lá é um lugar, muitas vezes, hostil. Tem muitas brigas, não funciona bem e não tem capacidade para abrigar todos que precisam”, comentou a educadora. 


Foto 1: Equipes da prefeitura fazem abordagem com a população em situação de rua.

Reprodução: Prefeitura Municipal de Niterói


Para conseguir ter acesso aos abrigamentos municipais, os indivíduos precisam estar portando seus documentos de identificação, o que é preocupante, visto que muitas pessoas não o têm ou perderam quando começaram a viver nas ruas. Denilson Silva, de 36 anos, mora nas ruas de Niterói há 8 meses, e afirma que tentou entrar em um abrigo. “Tem que falar e só entrar com documento. Graças a mim com meu carrinho de mercado, eu garimpo e guardo minhas coisas” relatou o homem. 


Ademais, as formas de acolhimento desses grupos também deve ser um ponto discutido, a empatia e cuidado devem fazer parte da abordagem da assistência. O estagiário da secretaria de direitos humanos, Cristofer Alexandrino, relatou como pessoas em situação de rua se sentem quando entram em contato com algum agente público. “[...] Eles tem um certo gatilho com a prefeitura de Niterói, porque eles infelizmente tem uma política higienista, muitos trabalhos que eles fazem é com a CLIN, por exemplo”, expôs.


O jovem completou a fala narrando o cenário de como são feitas essas aproximações. “Imagina você em situação de rua e chega alguém junto ao caminhão de lixo e dois policiais armados para te abordar. Não podem oferecer nem um tipo de resistência se não sofrem algum tipo de consequência. Acredito que precisamos de uma mudança nesse sentido”.


As ações da prefeitura em conjunto da Companhia Municipal de Limpeza Urbana de Niterói (CLIN) e da Guarda Municipal, ajudam a firmar preconceitos e, dessa forma, afastar a parcela da população que se encontra nas ruas. Assim, não cumprem o objetivo proposto, que é o resgate de pessoas em vulnerabilidade. 


Com o crescimento do número de pessoas morando nas calçadas, a prefeitura precisa de projetos eficazes para fornecer os recursos necessários e atender as demandas desses indivíduos. As medidas de proteção devem ir além da distribuição de cobertores e agasalhos. A segurança alimentar, a moradia e os empregos fazem parte do somatório dessa solução. 


Para aqueles que desejam ajudar ou informar pessoas que se encontram nessa situação, confira o contato dos responsáveis para auxiliá-los: Zap da Cidadania (21) 96992-9577, Centro Pop (21) 98204-3584 e Casa da Cidadania Florestan Fernandes (21) 2620-6010.


Comentários