Transtornos Mentais: O drama de se cuidar em Niterói

A dificuldade de atendimento em Niterói somada à estigmatização do cuidado com a saúde mental: uma soma negativa para a sociedade atual pós pandemia. 


Por Vivian Oliveira


Depois da era pandêmica que o mundo viveu, através das notícias nas redes de comunicação a população ouviu falar em transtornos psicológicos.


Foto 1: foto sobre transtorno psicológico

Reprodução: UOL


Em Niterói, dados do IBGE constam que esse momento de distanciamento social desencadeou um aumento de 25% na prevalência de depressão e ansiedade no mundo todo, um dado preocupante tendo em vista os serviços oferecidos pela própria cidade não serem abrangentes o suficiente para essa população.


Em uma conversa com Jully Rocha, Estagiária do SPA (Serviço de Psicologia Aplicada) da UFF, ela explica que “infelizmente a oferta de vagas de atendimento são poucas para o tanto de demanda da cidade, alguns serviços funcionam com agendamento prévio, outros tem plantão de atendimento e geralmente consiste em chegar em um dos dispositivos da rede de saúde mental, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), as policlínicas, e até mesmo os SPA’s das Universidades”.


A acadêmica de Geografia da UERJ, Vitória Ribeiro, sentiu na pele as dificuldades de atendimento que foram relacionadas acima. Ela explicou que o atendimento acontecia por área, e a área disponível pra ela era bem mais distante que o posto mais próximo da casa, que fica em Jurujuba. Mas a preocupação maior era pela parte burocrática de conseguir o acompanhamento: “Eu senti que precisaria de mais sessões acompanhadas, mas existia uma burocracia muito grande por conta do próprio SUS, que dificultava o acompanhamento e me fez não conseguir continuar com o tratamento”.


Lívia Nogueira Rodrigues, estagiária da SPA da Famath falou que para além da parte burocrática, existem outras dificuldades: “O problema é que não existe uma triagem muito definida, existem muitas inscrições e acaba que várias fichas se perdem (…), existem poucos profissionais e os clientes acabam tendo que esperar. Acredito que esses empecilhos acabam desanimando algumas pessoas a procurarem atendimento.”


Entrando no âmbito pandêmico em específico existiram situações circunstanciais para o aumento dessa procura. Dentre elas, pode-se destacar a ação direta do vírus da Covid-19 no sistema nervoso central, as experiências traumáticas associadas à infeção ou à morte de pessoas próximas, o estresse induzido pela mudança na rotina devido às medidas de distanciamento social ou pelas consequências econômicas, na rotina de trabalho ou nas relações afetivas e, por fim, a interrupção de tratamento por dificuldades de acesso. 



Foto 2: foto sobre transtorno psicológico na pandemia

Reprodução: PREVIVA



Além disso, ainda existe a estigmatização do cuidado com a saúde mental. Segundo Jully, “a psicologia é uma profissão que enfrenta um grande estigma, que é o estigma do cuidado com a loucura. Muitas pessoas resistem muito antes de dar o primeiro passo justamente por causa disso. Existem poucas campanhas que tentam mudar esse estigma, mas aos poucos vamos avançando para além dessa percepção”.


E falando em avanço, a Prefeitura de Niterói oferece alguns incentivos a esse cuidado. Um exemplo disso é a Fundação Estatal de Saúde de Niterói, a FeSaúde que dá apoio aos programas de Saúde Mental da cidade de Niterói. Existem também programas acadêmicos que se propõem a ajudar nessa demanda. Conversamos com a Lívia Nogueira Rodrigues, estagiária da SPA da Famath que explicou sobre o funcionamento das escutas psicológicas:


“A cidade conta com atendimentos sociais pelos SPAs de faculdades como a UFF, Famath, Estácio, Anhanguera, onde estudantes de psicologia atendem com a orientação de um professor e o cliente paga apenas uma taxa simbólica pelo serviço”. 


Foto 3: foto sobre escuta psicológica da UFF

Reprodução: UFF


É preciso entender que vivemos um processo novo para todos, onde estamos aprendendo a lidar com um novo momento interna e externamente. Segundo Gabriel Turque, que trabalhou como Oficineiro do CAPS - Casa do Largo, o que precisamos para melhorarmos nesse quesito é “cuidar para que possamos fornecer um cuidado cada vez mais amplo e adequado a toda a população que necessita de acompanhamento psicológico e psiquiátrico, o caminho só se constrói com debates, transparência, implicação e ampliação do acesso à cidadania, afeto e cultura a todos os que são historicamente negados do mais básico da condição de vida humana em sociedade”.


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