A importância de projetos culturais na vida de estudantes de escolas públicas

Por meio de incentivo à leitura e do acesso à tecnologia, projetos culturais em escola pública de Niterói fazem a diferença na vida de jovens

Por Julia Miranda

A cultura é um importante elemento na formação de perspectiva de vida de crianças e jovens, pois é capaz de apresentá-los a diferentes realidades e a uma vasta diversidade cultural. Além disso, é capaz de gerar descobertas acerca de possibilidades profissionais e desenvolver uma visão crítica de mundo. Na Escola Municipal Altivo César, o incentivo à cultura é algo muito presente. No pós-pandemia, duas iniciativas foram postas em prática: o “Clube do Livro” e o “Include Meninas”.

O projeto “Clube do Livro" foi idealizado pelo estagiário e estudante de letras, Wendell Siqueira, e conta com o apoio das professoras de Língua Portuguesa, Maria do Carmo e Barbara Poubel. O objetivo do projeto é estimular o espírito leitor e escritor dos jovens, além de proporcionar debates e trazer à tona questões que os tornem mais críticos.

Com a pandemia da COVID-19, crianças e jovens tiveram que se adaptar às aulas remotas. Perderam o contato uns com os outros e com os professores, além da dificuldade que muitos tinham em acessar as aulas online. Consequentemente, muitos alunos ficaram com o ensino defasado.  

Em 2022, com a volta das aulas presenciais, o “Clube do Livro” começou a ser desenvolvido. Os encontros são semanais, ocorrem toda terça-feira. O projeto é realizado nas turmas de 9° ano. Cada turma é dividida em duas, uma parte vai para a sala de leitura e a outra parte fica na sala de aula. Em casa, cada aluno lê um conto e depois as histórias são debatidas em sala. Após isso, os professores solicitam que os alunos escrevam um conto, estimulando também a parte da escrita.

Foto 1: Reunião do “Clube do Livro” na Escola Altivo César

Reprodução: Wendell Siqueira


No momento, os jovens estão lendo o conto “Chapeuzinho Esfarrapado”, que aborda contos feministas de folclore. Wendell relata que também tem vontade de trazer livros mais atuais para o projeto: “Eu queria trazer livros mais atuais, tipo Harry Potter ou Percy Jackson. Mas eu não teria quantidade de livros para todos os alunos. O acervo bibliotecário é muito vasto lá, mas ainda não contempla tudo”.

Atualmente, a geração dos jovens é muito tecnológica e este fato se intensificou muito na pandemia. Projetos como esses visam reconectar os estudantes com a leitura, estimulando o contato com a leitura e a escrita. Além disso, fortalecem o espaço coletivo por meio da realização de debates em sala.

Segundo Wendell, as maiores dificuldades do projeto são a falta de interesse de alguns alunos pela leitura e a escassez de recursos. Apesar de contar com o apoio do diretor e dos outros professores, o projeto não recebe nenhuma ajuda financeira e conta apenas com a verba que a escola recebe.

O “Clube do Livro” é um projeto piloto, mas Wendell acredita que seja possível levar a ideia para toda a rede municipal de Niterói: “A gente tá pensando sim em expandir para toda escola e por que não por toda rede, ‘né’? Por que não levar para todas as escolas de Niterói?’’.

Outro importante projeto que acontece na escola Altivo César é o “Include Meninas”, um projeto de extensão do Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense, orientado pela professora Luciana Salgado. A iniciativa passou a ser implementada nas escolas públicas com a intenção de aumentar a representatividade feminina nos cursos e carreiras ligadas à tecnologia. Para Carolina Ribeiro (42), professora de Língua Portuguesa e responsável pelo projeto na escola, “nossa intenção é de que elas ampliem sua visão de mundo, aumentando seu repertório sociocultural. A partir do projeto, essas meninas passam a perceber que existe uma desigualdade entre os gêneros em algumas profissões, como as ligadas à tecnologia. Além disso, passam a ter conhecimento de nichos do mercado de trabalho que até então desconheciam”.

Os encontros ocorrem uma vez por mês, através de oficinas ministradas por professoras ou por estudantes da UFF, sempre às quartas-feiras, depois das 10h. No momento, devido a falta de laboratório de informática, as oficinas têm sido, segundo Carolina: “desplugadas, ou seja, são dinâmicas, palestras, rodas de conversa...”.

Foto 2: Reunião do “Include Meninas” na Escola Altivo César

Reprodução: Arquivo pessoal- Carolina Ribeiro


Diferentemente do “Clube do Livro”, o “Include Meninas” recebe apoio e financiamento da FAPERJ- Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. Apesar disso, a falta de infraestrutura e os poucos equipamentos acabam dificultando o andamento do projeto. Carolina relata: “Estamos sem laboratório de informática, o que seria interessante para o Include, uma vez que é um projeto ligado à computação. Não há sinal de internet”.

Projetos como esses são muito importantes na vida desses adolescentes e na sociedade como um todo. Apesar da cultura ser um direito garantido por lei, grande parte dos brasileiros não consegue acessá-la. Essas são iniciativas capazes de transformar a vida de jovens. Por meio da arte e da cultura diversos caminhos e oportunidades podem surgir, até mesmo profissionalmente. 


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