Da ausência de divulgação ao pouco investimento, as salas vazias não refletem as necessidades da comunidade
Por Jamile Rezende
Os atendimentos oferecidos pelo Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) no ambulatório clínico da UFF são diversos, atendem a população de Niterói e redondezas. O serviço conta múltiplas linhas de atendimento psicológico, tais como a fenomenologia existencial e a psicanálise. O foco do ambulatório visa os estágios dos alunos que cursam Psicologia na UFF, a fim de torná-los aptos para o atendimento clínico cotidiano. Apesar disso, raros são os que vivenciam o acompanhamento, e seletos são os que realizam o estágio que desejam, fazendo com que muitos precisem atrasar a formação. As raízes das problemáticas convergem na escassez de investimentos públicos para ampliar as ações e a insuficiência de divulgação, responsável por fazer com que as demandas não sejam encontradas pelos profissionais.
Foto 1: Sala de recepção dos pacientes do SPA
Reprodução: SPA UFF (http://spa.sites.uff.br/)
“A gente escuta falar que existe uma demanda, mas essa demanda não está chegando para a gente. Por quê?”. A frase dita por estagiários do SPA reflete o cenário encontrado: salas vazias e poucos atendimentos sendo realizados. O ambulatório-escola utiliza o acesso realizado no site http://spa.sites.uff.br/, em que é disponibilizado um formulário para que os candidatos preencham e solicitem o suporte, e a partir disso são realizadas as consultas, conectando o paciente e o estagiário.
Infelizmente, o atual formato não é acessível para os que não possuem acesso à internet. “Falta a possibilidade das pessoas virem mais pra universidade (onde os atendimentos ocorrem), mas aí envolve vários estigmas;” fala A, que preferiu não ser identificado.
Segundo Renata Monteiro, diretora do SPA e professora do departamento de Psicologia, antes da pandemia era reservado um dia na semana para que as pessoas fossem até o local realizar suas inscrições: “A gente tá avaliando se isso precisa mudar (a inscrição remota), porque no presencial o que estava acontecendo é que como as vagas não dão conta da demanda que tava chegando, tinham pessoas que estavam chegando três horas da manhã para a fila”. Ela completa: “É para ser um campo de formação. [...] A gente não tem como dar conta disso, isso é uma política de Estado. A gente tá falando de algo que o município, o país vai ter que rever.”.
Para A, a carência de incentivos para a área dificulta a contratação de novos profissionais para supervisionar o projeto, e consequentemente, a inserção de novos estagiários para atender: “Para além de uma questão da instituição do SPA, eu acho que por falta de verba a gente não tem mais estágios. Porque mais estágios possibilitariam mais supervisores, [...] então as pessoas poderiam ir mais”. O estágio é uma oportunidade de variar e enriquecer o currículo e a experiência dos graduandos de Psicologia, tornando-os capacitados para lidar com inúmeros cenários. “A importância é tá diante de uma outra pessoa, o manejo do que é acolher alguém, o que é escutar, como cuidar e que seja um cuidado que tenha um remetimento orientado por uma referência, por uma abordagem. [...] O atendimento é uma experiência para alguém que está terminando um curso de Psicologia, para poder inclusive decidir se é isso que ele vai fazer pra vida toda ou não.”, explica Renata Monteiro.
“Basicamente, eles não acreditam em cobrar pelo serviço mental. Mas sem cobrar a gente também acaba ficando dependente, né? A luz tem que ser paga, o tempo tem que ser pago”, diz uma segunda fonte, identificada como B. “Sem cobrar a gente atende um número X de pessoas e talvez com essa empresa júnior, esse formato de remuneração para ajudar os estudantes, a gente conseguisse aumentar o número de atendimentos, mesmo que fosse um valor social”, reafirma B.
Segundo outras fontes que preferiram manter sua identidade em sigilo, o atendimento proporcionado é excelente: “Quanto ao espaço, acessibilidade, hora, sigilo e tratamento, são de alta qualidade. Além da gratuidade”.
Todavia, mesmo ao encontrar um serviço relevante e demandas sendo levantadas, existe a inquietação de ter seus desejos atendidos: “O SPA não comporta. É porque a gente tenta pegar uma demanda que é uma demanda de uma saúde pública, é uma demanda de uma rede precarizada, é uma demanda da falta de saúde mental.”, finaliza refletindo A.
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