Assistência estudantil:

Assistência estudantil


Da aprovação no vestibular para as dificuldades de se manter na universidade


Por: Ana Clara Nascimento


Foto: Manifestantes segurando faixa escrito "Pagamento de todes deferides já! DCE UFF"

Reprodução: Instagram


“É chato, complicado e dá raiva”, declarou Narjara Santos, discente de Estudos de Mídia da UFF, sobre não ser contemplada com o auxílio transporte. Para esse período, cerca de 2,4 mil bolsas de assistência foram divulgadas pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PROAES), número insuficiente se analisarmos que, de acordo com o Sistema de Transparência da UFF, 58 mil alunos têm renda igual ou menor que 1,5 salário mínimo - o que gera inconformidade para os estudantes e representantes acadêmicos. 


“O investimento na educação precisa aumentar, o PNAES (Programa Nacional de Assistência Estudantil) esse ano, aqui na UFF, sofreu um corte de 1 milhão de reais, é insustentável", relatou a coordenadora geral do DCE da UFF, Brenda Minghelli. Durante o governo Bolsonaro, as Universidades Federais foram completamente negligenciadas e sofreram com os inúmeros cortes. O último, em Dezembro, foi no valor de R$50 milhões. Esses bloqueios afetam a distribuição de auxílios e, por sua vez, a permanência de estudantes na graduação. Brenda ainda completou, “Infelizmente a gente precisa debater prioridade e apresentamos que a prioridade hoje é a assistência estudantil”. 


Com o baixo número de contemplados, os alunos precisam  fazer sacrifícios se quiserem permanecer na faculdade. “Hoje em dia eu tenho o que comer, porque alunos da UFF me doaram alimentos. (...) Comprei uma bicicleta velha pois, com tudo isso que ‘tô’ passando, não tenho dinheiro para a passagem”, relatou uma estudante de física, que preferiu não se identificar. Outro exemplo é Narjara, que - por duas vezes - foi deferida, mas não contemplada, ela disse: “Pra mim é um pouco difícil, porque eu tive que arranjar um emprego de jovem aprendiz (em Ipanema) para conseguir custear a passagem”, ela declarou gastar mais de R$450 reais por mês com transporte. 


Essa situação também reflete no aumento da evasão. “A gente vê que cada vez menos estudantes estão conseguindo se formar na universidade. Isso porque conseguem entrar, mas não permanecer, por causa dos desafios cotidianos”, ressaltou Brenda. Os gastos com transporte, moradia, impressões de textos, material didático e alimentação faz com que torne-se inviável para alguns discentes seguir na graduação, optando por trancar o curso. As duas alunas entrevistadas disseram que já pensaram, e às vezes ainda pensam, em dar uma pausa na graduação: "Antes de arrumar meu emprego, eu pensei que não ia ter jeito e seria necessário. Hoje eu vejo como tá sendo cansativo e às vezes eu sinto vontade de trancar, mas como o período de ajustes já encerrou eu não posso mais”; “Eu só não tranco, porque se trancar eu perco a pensão, que é minha única renda hoje”. 


Apesar da Lei de Cotas ter aumentado o ingresso de alunos de baixa renda nas universidades, existe uma luta entre os estudantes mais pobres para permanecerem nesses espaços. Eles se desgastam muito, fisicamente e psicologicamente, para tentar conciliar, muitas vezes, trabalho com estudo: "Às vezes eu me sinto tão exausta, que eu não consigo prestar atenção no que o professor fala”, disse a estudante de mídias. Isso demonstra que, sozinha, a Lei de Cotas não é suficiente para manter um estudante dentro da universidade. 


Por isso, o DCE fez - no último mês de abril - um ato na reitoria solicitando que as quantidades e os valores dos auxílios fossem ajustados, para tentar diminuir a evasão dos estudantes. O movimento resultou no aumento de 550 bolsas, para contemplar os discentes que já haviam sido deferidos. Apesar da conquista, o número ainda é inviável, em virtude da alta demanda. Fica claro a importância do movimento estudantil nessa luta, porque é através dele que os responsáveis por esses assuntos são cobrados. “Estamos tentando manter o diálogo de todas as formas, mas se for necessário vamos fazer algum ato ou mobilização maior, para pressionar os espaços da reitoria para eles colocarem isso (os auxílios estudantis) como pauta prioritária”, disse a representante do Diretório Central dos Estudantes. Para saber mais sobre as mobilizações, acesse o perfil @dce_uff no instagram.


Comentários