Niterói lida com o impacto do abandono de cães e gatos


Embora a prefeitura lance projetos para resolver o problema, o crescente caso de animais de rua abandonados pelo município é realidade e a comunidade se vê obrigada a agir. 

Por Isabela Tota
 

É impossível não reparar a quantidade cães e gatos abandonados nas ruas da cidade. A prefeitura e órgãos municipais responsáveis pelo controle de animais da cidade são responsáveis por propor e executar os projetos para diminuir o impacto e resolver o problema do abandono de animais. Eles são encarregados por iniciativas como microchipar os animais doados e fazer campanhas de adoção e de castração. Todavia, essas ações não parecem ser suficientes para resolver a situação da população niteroiense de animais abandonados. Sendo assim, as pessoas que lidam com esses animais no dia-dia mostram como ainda é difícil a realidade de quem cuida e zela por eles. 

Gatinho que foi abandonado em bueiro e foi resgatado pela ONG, agora em lar temporário. Reprodução: Instagram.


A ONG A Casa do Cão e Gato (ACCG), que conta com mais ou menos cem animais residentes em seu abrigo, resgatados de casos de maus tratos e abandono, falou um pouco de como os pedidos de resgate são uma realidade no dia da ONG.

“Todo dia a gente recebe no mínimo uns 8 pedidos de resgate, sendo que o acolhimento/resgate é muito além de simplesmente pegar um animal e botar em outro lugar” diz Ana Luiza, voluntária e uma das coordenadoras do abrigo.


 Além disso, acrescentou que mesmo que elas não tenham um controle numérico e estatístico do efeito dos projetos da prefeitura, o número de mensagens pedindo resgate e acolhimento só cresce com o tempo, mas ela não sabe afirmar se é um reflexo de projetos da ONG que estão funcionando e construindo credibilidade. “Para a gente não faz muita diferença o porquê a gente ainda recebe muita mensagem sobre abandonos” afirma a voluntaria.
De acordo com Ana Luiza, a maneira como a população compreende os animais também é um empecilho para a resolução do problema dos cães e gatos que vivem nas ruas.


“Enquanto as pessoas ainda continuarem enxergando os animais como coisas, a realidade dos abandonos não vai mudar. É um trabalho cansativo e exaustivo, a gente tenta dar nosso melhor, mas as vezes é insuficiente para sanar todos os problemas dos animais, ainda mais sendo um trabalho totalmente voluntário” contou a voluntária da ONG, Ana Luiza, reafirmando como a realidade dos abandonos de animais ainda está longe de mudar em Niterói. 


Além da realidade da ONG, há a população que cuida dos animais por conta própria. Em entrevista, o procurador da reitoria da UFF, Francisco, contou que já tem algum tempo que gatos aparecem no trabalho dele e, então, junto aos colegas começou a cuidar desses animais e alimentá-los.
“Para tentar resolver o problema precisamos levar por conta própria os animais ao veterinário para castrar, mas nem sempre conseguimos a tempo, agora mesmo tem alguns filhotes por aí” afirma Francisco, que ainda acrescenta “Não temos a ajuda da prefeitura, esses gatos descem ali da mata e não conseguimos ter um controle”. 


Ao tentar contato com a prefeitura, mais especificamente com a secretaria do meio ambiente, a fim de obter dados sobre como foi o efeito desses projetos e iniciativas no município de Niterói, o órgão não conseguiu responder as questões e não cedeu uma entrevista.



Potes de água e comida; e casinha que ficam na reitoria da UFF para os gatos, colocadas pelos próprios trabalhadores. Reprodução: arquivo pessoal

Em entrevista concedida ao “Alô, Gragoatá!” o ex-secretário do meio ambiente e atual vereador, Daniel Marques, que é ativo na luta dos direitos dos animais, relatou a realidade das campanhas de castração e adoção: "São longe do ideal. A verdade é que a prefeitura poderia estar castrando mais animais do que castra hoje. Campanhas de adoção organizadas pela prefeitura também deixam a desejar"


Ele afirma que a prefeitura de Niterói não tem nenhum abrigo ou hospital público para esses animais abandonados.


 “Infelizmente a verdade é que hoje só não contamos com aparelhos desse tipo em Niterói por falta de vontade, já que o nosso orçamento anual gira em torno de R$ 6 bilhões e cidades com um orçamento muito menor que o nosso já conseguiram avançar nesse tipo de política pública, como Resende, Angra dos Reis e Maricá” 


De acordo com Daniel, o problema de abandono de animais tem que ser visto em parceira com a polícia da cidade, visto que, é um crime e precisam ter penas que sejam cumpridas executadas. Também relata que muito dos projetos que visam resolver os problemas são barrados por questões políticas e a prefeitura mostra-se incapaz de solucionar esse problema.


 “Enquanto a prefeitura não acordar para o tema, nossos amigos que não têm voz continuarão nas ruas” afirma o vereador, descontente com a situação que ele busca tentar melhorar na cidade.

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